Mais de 30 horas após a tempestade que atingiu o Estado na madrugada de quinta-feira (21), derrubando postes, árvores e destelhando casas, uma parcela dos moradores de Porto Alegre segue sem energia elétrica. Conforme o último boletim divulgado pela CEEE Equatorial, 20.802 clientes permaneciam desabastecidos até o meio-dia. Em toda a área de concessão da compaha no Estado, o número de pontos sem luz era de 195.398.
Em janeiro, muitos bairros da Capital ficaram sem luz por mais de 10 dias.
Em todas as regiões da cidade, há pontos que ainda estão desabastecidos. Os impactos vão prejuízo nos negócios até idosos com dificuldade para sair de casa.
Comerciante estima prejuízo que pode chegar a R$ 20 mil
No bairro Tristeza, na Zona Sul, diversos comércios estavam às escuras no final da manhã desta sexta-feira (22). Sem perspectiva do retorno da luz, donos de negócios relatam perdas no faturamento por estarem com o funcionamento comprometido.
Dona de uma loja de produtos sem glúten, Claudiana Chaves, 56 anos, afirma já ter perdido R$ 6 mil em produtos que estragaram em razão de queda de energia neste ano. Todos os freezers que armazenam os alimentos congelados estavam vazios. Segundo ela, se confirmar a previsão da CEEE Equatorial de retorno até segunda-feira (25), o prejuízo pode chegar a R$ 20 mil.
— Nós temos mais de oito freezers aqui. Foi muito alimento posto fora nessa segunda tempestade. Isso é um negócio da nossa vida. A gente empreendeu tudo aqui. Então, queria pedir para Equatorial um olhar com um pouco mais de cuidado, tá faltando coração e humanidade — desabafa.
Mecânica fica com carros parados
Outro negócio comprometido com o novo apagão foi a oficina mecânica do Plínio da Silveira, localizada no bairro Bom Jesus, Zona Leste. Por morar nos fundos do estabelecimento, ele tem que enfrentar as dificuldades pessoais e profissionais da falta de energia.
— Eu estou com os carros no elevador. Em plena sexta-feira não posso entregar carro, tive que cancelar serviço agendado pra hoje. Sem luz uma oficina não tem como trabalhar, é impossível — reclama.
Condomínio que ficou uma semana sem luz em janeiro volta a registrar problema
Um condomínio do bairro Azenha, na região central, com cerca de 500 moradores viveu um pesadelo no mês de janeiro, com uma demora de quase sete dias para o restabelecimento da energia. Com a chuva e o vento dessa quinta, a situação voltou a se repetir.
Mesmo que o período sem luz desta vez seja menor, os prejuízos já estão sendo notados por toda a vizinhança. A oficial administrativa Luciana Barbieri mora no décimo andar, e já teve utilizar as escadas por pelo menos quatro vezes.
— Se eu tinha algum pecado eu estou pagando, porque eu subi 10 lances de escada. Agora tive que dar uma escapada e comprar gelo, ou então vou perder todos os alimentos em casa — relata.
A vizinha dela, Maria Núbia Ávila, contou que precisa ajudar os vizinhos mais idosos que não conseguem deixar o apartamento por terem dificuldade de caminhar.
— Tem uma pessoa que depende dos elevadores para dar uma caminhadinha. Nós estamos nos revezando para fazer companhia para ela, para ela não ficar tão sozinha porque a única distração que ela tem é descer e ficar na praça — comenta.
Idoso encara mais de 90 degraus
No bairro Higienópolis, na Zona Norte, o professor aposentado João Carlos Gasparin, de 79 anos, precisa enfrentar 93 degraus . Ainda que tente evitar o esforço, ele afirma que precisa deixar sua casa para realizar exames médicos.
— Tá muito difícil pois ou você sai de casa tendo que descer a escada, o que é muito difícil, ou você fica preso, sem luz, sem internet, sem TV, sem nada!