O frêmito contínuo das talhadeiras tocadas por marretadas sobre a alvenaria em estruturas na base do Esqueletão, no Centro Histórico da Capital, traz um olhar de alívio e preocupação pelos dias que sucederão o início da demolição do velho prédio cuja construção foi interrompida em 1959. Nesta segunda-feira (22), após uma longa disputa acerca do direito de remover a construção inacabada, era possível perceber a movimentação de operários em atividade. A ação deve levar cerca de quatro meses para sua conclusão, ao custo de R$ 3,79 milhões.
— A gente acredita que o trabalho será feito com a responsabilidade necessária, mas a preocupação existe — define Orides Selau, gerente de uma loja de vestuário masculino estabelecida na Rua Otávio Rocha desde 1935, duas décadas antes da edificação do Edifício Galeria XV de Novembro.
Há 41 anos empregado no estabelecimento, o trabalhador sexagenário pondera que a retirada do Esqueletão é necessária para a própria segurança da vizinhança.
— Neste temporal que passou semana passada, tive medo de que caíssem pedaços sobre as lojas. É real o risco de que ocorram problemas caso esta construção velha não seja retirada daqui — comenta.
A curiosidade e o receio ocorrem desde que a prefeitura anunciou o início da demolição, que será realizada de forma mista. De acordo com o projeto, os 10 andares mais altos e os módulos frontal (fachada da Rua Marechal Floriano Peixoto) e traseiro (lateral para a Rua Otávio Rocha) serão desestruturados e removidos por máquinas e operários. Já os 10 andares mais baixos da edificação principal serão implodidos.
É propriamente a proposta de uso de explosivos o que mais traz inquietação entre os vizinhos. Do 22º andar do prédio situado ao lado do Esqueletão, o contador Rodrigo Piva, 30 anos, observa em ponto de vista privilegiado a história mais antiga que ele, a qual se aproxima de um aguardado desfecho.
— A cada ano que passa, este prédio se torna mais perigoso e desconectado do visual da cidade. Mas a ideia de utilização de explosivos assusta. Será que os outros prédios vão resistir? — questiona o proprietário da sala comercial contígua ao objeto das intervenções.
Vizinhança histórica
As edificações adjacentes e próximas são diversas. Entre elas há arquiteturas históricas, como o Chalé da Praça XV e o conjunto de lojas da Rua José Montaury. Mais afastado, mas não distante, estão o recém recuperado Mercado Público e o Terminal Parobé. Edificações da Rua Otávio Rocha, como o Edifício Frederico Mentz, localizado na esquina da Marechal Floriano, e peças arquitetônicas de períodos mais recentes também figuram entre os lindeiros da demolição.
Do chão da Praça XV, a estagiária da Santa Casa de Misericórdia, Lavínia Muniz, 21 anos, contempla a expressiva aparência do Edifício Galeria XV de Novembro. Ela conta que "viaja" diariamente, de Santo Antônio da Patrulha para Porto Alegre, para cursar seu estágio e caminha todos os dias pelo Centro, sob a sombra do Esqueletão.
— Não tem nada a ver com a cidade. Passo aqui todo os dias e acho esquisito este prédio feio, abandonado — analisa a futura técnica em enfermagem.
Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, "a demolição do prédio Galeria XV de Novembro, conhecido popularmente como 'Esqueletão', não afetará de forma direta o comércio do Centro Histórico. A secretaria se reuniu com moradores e comerciantes do entorno, onde foi apresentado o projeto, bem como, sanadas todas as dúvidas". Ainda segundo a pasta, "nesses primeiros dias, a empresa está providenciando as licenças, para então, começar de fato a obra".