Inacabado e abandonado na Rua Marechal Floriano Peixoto desde a década de 1950, o “Esqueletão” foi citado nominalmente durante a entrega da chave da prefeitura de Porto Alegre a Sebastião Melo na última sexta-feira (1°). Falando das melhorias que planeja para o centro de Porto Alegre, em meio à solenidade realizada no Largo Glênio Peres, o novo prefeito apontou para a construção sem esquadrias ou reboco de 19 andares e afirmou:
— Ou os proprietários arrumam o prédio, ou ele virá para o chão. Assim não vai ficar.
Chamado oficialmente Edifício Galeria XV de Novembro, o Esqueletão não é só um elemento feio na fotografia do Centro Histórico. Laudo técnico feito na gestão de Nelson Marchezan apontou que ele tem a estrutura comprometida e corre risco crítico de desabamento, em decorrência de um incêndio e da exposição às intempéries há mais de 60 anos.
O Ministério Público pediu ainda em 2018 a desocupação, e, como explica o promotor de Justiça Heriberto Roos Maciel, hoje cabe à própria prefeitura de Porto Alegre providenciá-la.
— O município tem obrigação de fazer um plano de desocupação dos moradores e comerciantes, para que depois faça a destinação do prédio: ou a demolição completa ou mesmo que faça uma requalificação urbanística.
Ele relata que a Justiça até chegou a dar um prazo para os proprietários realizarem um laudo definitivo para determinar se haveria chance de retomarem a construção, o que acabaria não acontecendo. Além disso, em 2019, Nelson Marchezan assinou um decreto que declara o Esqueletão um “imóvel de utilidade pública”, passo para ajuizamento da ação de desapropriação do imóvel.
A respeito da possibilidade sugerida pelo novo prefeito, de que os proprietários "arrumem o prédio", o promotor comenta:
— Acho que ele tem que se inteirar com a Procuradoria-Geral do Município, essa fase já passou. A menos que o prefeito decida retroceder na desapropriação, o que seria bastante complicado.
Entre moradores e comerciantes, a posse de Sebastião Melo está gerando expectativas sobre o futuro do Esqueletão. Dono de uma loja de caça e pesca na galeria do térreo, Luiz Carlos dos Santos, 64 anos, destaca que os comerciantes ali presentes impedem que o prédio seja invadido por criminosos que assaltam os pedestres na rua.
— Vamos supor que o prefeito tire todo mundo e que isso fique abandonado. Se nós sairmos, isso vai encher de marginais.
A auxiliar de serviços gerais Silvia Regina da Conceição, 57 anos, fez da construção inacabada sua casa há cerca de dez anos. Afirma que ela e os outros moradores querem permanecer no local.
— A gente quer lutar para ficar. E se tiver que sair, tem que dar local para a gente morar. Eu não tenho para onde ir.
GZH tentou esclarecimentos do prefeito Sebastião Melo sobre seus planos para o Esqueletão, mas não conseguiu retorno até a publicação dessa reportagem.