Inacabado desde a década de 1950, o "Esqueletão" do centro de Porto Alegre não esconde suas fragilidades: armaduras de concreto aparentes, nichos de concretagem nas paredes e vegetação crescendo em pavimentos interditados denunciam a falta de manutenção do prédio. Apesar disso, o edifício cuja demolição foi pedida pelo Ministério Público no fim de julho está longe de oferecer risco de queda, segundo o engenheiro civil Fernando Martins da Silva, perito e integrante conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio Grande do Sul (Crea-RS).
— Não se vê fissuras nem rachaduras nas alvenarias. Isso significa que o prédio está estável. Ele chama atenção por estar inacabado, mas está muito distante de um risco estrutural — avaliou o engenheiro, que visitou o local a convite de GaúchaZH.
Segundo o profissional, os principais problemas aparentes podem ser resolvidos com manutenção. O mais urgente, na sua avaliação, são os pontos de infiltração, que podem comprometer a estrutura a longo prazo. Ele considera que a opção pela demolição é uma "solução radical" para o problema, uma vez que não há indícios de colapso na estrutura.
— Tecnicamente, (a demolição) não faz sentido. Já vi prédios com habite-se e PPCI (Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio) e real risco de desabamento. Aqui, a solução não é colocar abaixo. É ajeitar os pontos que podem fragilizar a estrutura e realizar uma análise mais aprofundada, um debate com as entidades de classe — defende.
O engenheiro do Crea acredita que as principais deficiências do prédio devem-se à utilização irregular — há, por exemplo, fios elétricos expostos na parte externa. Ele questiona o argumento dado pelo Ministério Público sobre a vida útil do concreto, que estaria se esgotando, para justificar a demolição.
— Sessenta anos é pouco tempo para dizer que uma estrutura está completamente deteriorada. Cem anos é a vida útil de um concreto que não recebe manutenção. Se fosse assim, não existiria patrimônio histórico — diz.
“Ultrapassou vida útil”, diz laudo que embasou MP
No pedido de demolição do prédio, o Ministério Público cita uma vistoria técnica realizada pela prefeitura, em junho. O documento tem origem em dois processos judiciais, movidos pelo município e pelo MP contra, respectivamente, o condomínio e a prefeitura.
A inspeção, apresentada em um documento de 27 páginas, é classificada como uma avaliação de “Nível 1”, ou seja, não foram realizados testes ou medições mais aprofundadas: todos os apontamentos foram feitos a partir de uma análise visual — a prefeitura afirma que não tem recursos suficientes para produzir um laudo mais completo.
O laudo aponta que o prédio tem "grau de risco crítico" de incêndio e desabamento, condição que provocaria "danos contra a saúde e segurança das pessoas e meio ambiente", além do "comprometimento sensível de vida útil e desvalorização imobiliária acentuada". O documento cita falhas nos pilares, nas escadas, nas vigas e nas lajes.
Ainda conforme a vistoria, o concreto armado utilizado na construção seria propenso à oxidação. Por isso, o local apresentaria "sérios problemas de corrosões de armadura em diversas peças estruturais" que, sem o revestimento adequado, podem causar ainda mais desgaste e enfraquecimento do prédio devido à exposição a chuvas e ventanias.
Laudos anteriores mais aprofundados, entretanto, preveem que o prédio pode ser restaurado e ter sua vida útil ampliada. O mais recente, de 2015, afirma que se utilizados procedimentos e rotinas de manutenção, poderão ser garantidos o "bom funcionamento dos sistemas, uma sobrevida aos mesmos e uma valorização imobiliária".