Condenado pelo Ministério Público, que pediu sua demolição no fim de julho, o "Esqueletão" do centro de Porto Alegre passou por diversas pequenas reformas ao longo das últimas décadas. Conforme a Associação dos Proprietários e Inquilinos da Parte Térrea da Galeria XV de Novembro, foram feitas intervenções para evitar que a água da chuva invadisse a construção, trocada a caixa de energia elétrica e o piso da parte térrea. Anos atrás, o proprietário de salas nos andares superiores fez aberturas para a instalação de portas corta-fogo do quarto até o oitavo andar da construção.
— A gente está sempre arrumando. Estou aqui porque sei que o prédio está firme, que não tem como cair — diz o presidente da associação, Luiz Carlos dos Santos.
Dono de uma loja de material de pesca esportiva no térreo do Esqueletão, ele conta que a associação foi criada no começo dos anos 2000 para que os comerciantes pudessem unir esforços por melhorias no prédio. Segundo ele, o grupo aguarda por intimação judicial para apresentar uma proposta de conservação, que inclui o telamento da parte externa, o reboco e a impermeabilização do prédio, além do desmanche da "torre" inacabada a partir do oitavo andar — também estão dispostos a contratar a elaboração de um laudo técnico mais aprofundado sobre as condições da construção.
Ao todo, mais de 10 comércios atuam na parte de baixo do edifício, entre o negócio de Santos, uma loja que vende malas e um estúdio fotográfico. Sob o olhar de quem trabalha há quatro décadas no local, o prédio representa bem mais do que aparenta a carcaça.
— Hoje, não sei o que as pessoas veem... Sempre teve comércio aqui. Esse prédio foi muito bem feito, só tem que ser arrumado. Tenho esperança que percebam que botar abaixo não é um problema só para nós, é um problema para a cidade. Imagina fazer isso no meio do Centro? — reflete Santos.
O fim do "Esqueletão" também não seria um bom negócio para a prefeitura da Capital: o serviço oneroso exigiria recursos em meio a uma situação de penúria financeira. Segundo a Procuradoria-Geral do Município (PGM), no entanto, a prefeitura não deve contestar uma eventual determinação da Justiça pela demolição do prédio. Nesse caso, o município pretende repassar os custos aos proprietários dos imóveis.
— Se o juiz aceitar (o pedido de demolição), o município não vai contestar a sua obrigação de fazer isso. Não dispomos de recursos para isso. Se tivermos de abrir licitação, não vai ser simples, vamos ter que cobrar de alguém o valor — afirma o procurador-geral adjunto do município, Nelson Marisco.
O pedido de demolição, oficializado pelo Ministério Público ao Judiciário no fim de julho, leva em consideração uma vistoria técnica apresentada pela prefeitura em junho. O laudo deixa claro que não foram realizados testes, medições ou ensaios: todos os apontamentos foram feitos com base no “exame visual dos elementos”.