A revitalização do lago do Parque Moinhos de Vento devolverá beleza e proporcionará condições para a manutenção de um elemento incomum nos cenários urbanos. O Parcão, como é chamado afetuosamente pelos porto-alegrenses, tem em seu lago um refúgio natural transformado em habitat para centenas de exemplares da fauna silvestre e exótica. A previsão de entrega do espaço foi transferida de dezembro do ano passado para fevereiro.
— Tartarugas, cágados, diversas espécies de peixes e de aves foram sendo introduzidos neste espaço pela comunidade ao longo de muitos anos. Tornou-se um refúgio na cidade, onde os animais habitam, utilizam como ambiente de alimentação e de reprodução — explica o biólogo Bruno Fraga, um dos responsáveis técnicos pela benfeitoria.
Em passagem pelo canteiro de obras, onde cerca de 50 operários manejam ferramentas e produzem barulho dissonante com a calmaria habitual, não foi possível avistar a variedade de bichos descrita pelo biólogo. Apenas se fazia notável o movimento de peixes projetando a boca até a superfície para caçar algum inseto, além do olhar vigilante e distante de alguma tartaruga curiosa com a agitação.
Fraga diz que a época é de desova dos répteis. Ele aponta o local onde estão os ninhos. Filhotes, em breve, vão integrar o ambiente.
Para reconstituir o habitat, um longo processo de desassoreamento foi realizado. Foram removidos 5 mil metros cúbicos de sedimento. Junto da matéria orgânica, foram retiradas embalagens plásticas, latas e garrafas de bebidas, fragmentos irreconhecíveis de diferentes materiais e pedaços de objetos.
— Foi a etapa mais demorada do trabalho. O lago estava extremamente assoreado e sua fauna estava em risco. A área estava bastante degradada — conta a arquiteta Simone Tomás Rosa, também responsável técnica na atividade.
Simone explica que pedras foram colocadas nas margens em toda a extensão do lago para proteger as bordas da erosão e impedir a aceleração do assoreamento. Jardins do entorno serão recuperados, com colocação de grama e plantas ornamentais.
O tradicional Moinho de Vento foi recuperado. A cascata que dele flui foi reconstruída. Juntamente com um chafariz que foi instalado no centro do lago, provocará a circulação da água, qualificando a oxigenação que favorece a manutenção da natureza no local.
Mais de 30 bancos serão distribuídos no perímetro. Passeios vão ser limpos e redimensionados de acordo com o desenho dos jardins. Área de recreação infantil foi criada. Lixeiras e outros equipamentos serão instalados.
A intervenção é resultado de Termo de Alienação de Solo Criado por Contrapartida (TASCC), firmado com a construtora Melnick para a aquisição de índices construtivos necessários para a implantação de empreendimento na Avenida Nilo Peçanha. A estimativa é de que sejam investidos R$ 2,721 milhões, incluindo projeto, gerenciamento e execução.
Expectativa pelo término da obra
No outro lado dos tapumes onde acontecem as benfeitorias, a espera pela conclusão provoca apreensão, sobretudo entre comerciantes do polo gastronômico da Rua Comendador Caminha.
— A falta do estacionamento afasta parte da nossa clientela que vem ao Parcão para seu lazer, mas não consegue permanecer tempo suficiente para frequentar os restaurantes. A obra começou bem no período de recuperação da economia após a pandemia. A queda no faturamento foi de cerca de 30% — justifica a empresária Gabriela Lauer.
Segundo ela, no entanto, a proximidade da conclusão abre um novo cenário.
— O sentimento no começo é de que nunca vai acabar. Mas estando próximo da conclusão, a perspectiva é positiva. Tomara que fique um lugar atraente para as pessoas — comenta.
Para o gerente de outro restaurante, Felipe Campos, a aparente desorganização do espaço afugenta a freguesia. Ele relata que o estabelecimento, que trabalha com oferta de saladas e sucos como refeição, serve cerca de 100 refeições diariamente.
— Poderíamos servir muito mais com a árra liberada. O final desta reforma cria uma boa expectativa — define.