Em meio às tradicionais cores amarelo, azul e vermelho, reforçadas pelo sol inclemente que brilhou na maior parte do tempo, o Bloco da Laje reuniu milhares de amantes do Carnaval de rua desde as 7h deste domingo (28), na orla de Porto Alegre.
O ponto de encontro, divulgado apenas na véspera, como normalmente ocorre, foi na Avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), próximo à pista de skate do Parque Marinha do Brasil. O curto percurso do bloco se estendeu até perto da Avenida Ipiranga. Mas a concentração de gente era tão grande durante toda a manhã que o carro de som teve dificuldade para avançar no mar de foliões. A previsão dos organizadores era de que a festa se estenderia até as 19h, com a participação adicional de atrações como DJ Kafu e da Banda Saldanha.
Nem mesmo um pé torcido, que exigiu a colocação de uma tala ortopédica, segurou a carnavalesca Marina Bettanin, 24 anos. Apesar da lesão no tornozelo, pouco depois das 8h ela atravessou em ritmo de passista de escola de samba o parque Marinha até a área de concentração do Bloco da Laje.
— Ah, com pé torcido ou não, a gente vem igual. Nada para essa galera — garantiu Marina, ao lado da amiga Juliane Duarte, 28 anos.
Como é comum entre muitos frequentadores do evento, as duas costumam acompanhar os ensaios do grupo antes de comparecer à festa definitiva — que também consideram um espaço de expressão política.
— É algo pelo qual a gente espera todo ano porque também é uma forma de resistência cultural e da diversidade — complementa Marina.
O primeiro Carnaval de Celina
O domingo marcou a estreia de alguns foliões — entre eles a pequena Celina, de apenas quatro meses. Agarrada ao colo da mãe, Carolina Viero, ou do pai, Filipe Aguiar, ambos de 34 anos, ostentava um tip top branco onde se lia a frase "Meu primeiro Carnaval".
— Trouxemos ela pra já ir aprendendo o que é o Carnaval, a festa, as cores, a dança, a alegria. E, também, pra nós dois podermos vir pra festa e nos divertirmos — explicou Aguiar.
O horário cedo marcado para a concentração não foi problema: Celina já estava com os grandes olhos negros bem abertos desde as 5h55min do domingo. Mas a primeira lição sobre a mais popular das festas brasileiras não durou muito tempo: por volta das 10h, quando o sol forte e o calor faziam uma boa parte dos participantes buscar abrigo embaixo das árvores, Celina já dormia profundamente nos braços do pai.
Animação equivalente à do Rio
Bem mais experientes no universo dos blocos de rua, o casal de namorados Maick Lima, 40 anos, e Jéssica Strey, 30, costuma pular ao som dos tamborins em diferentes partes do país, incluindo o Rio de Janeiro. Segundo Jéssica, o bloco porto-alegrense não fica devendo em nada aos similares cariocas que eles mais frequentam, como o Areia, o Amigos da Onça e o Escangalha:
— Aqui é tão animado quanto lá, com uma diferença muito legal: aqui o bloco tem as suas cores características, fica muito bonito.
A multidão à frente do carro de som acabou até dificultando o avanço do veículo. Por inúmeras vezes, a organização precisou pedir ao microfone para os foliões abrirem espaço: "Vamos andar, pessoal, evoluindo, evoluindo", diziam os avisos, que acabavam sendo atendidos aos poucos.
Depois da passagem do Bloco da Laje, a festa tinha previsão de continuar até o final da tarde com a presença de outras atrações na chamada feira Achega Laje, no mesmo trecho da Avenida Beira-Rio próximo à Ipiranga, sob o comando da mestre de cerimônias Negra Jaque.
Uso de árvores como banheiro
Um dos poucos pontos negativos da festa foi a decisão de um grupo minoritário de participantes de utilizar as árvores do Marinha como banheiro, o que chegou a irritar alguns frequentadores.
— Tem banheiros químicos, mas muita gente está fazendo xixi nas árvores, homens e mulheres. Fica um cheiro horrível — lamentou um comerciante e usuário da pista de skate de 52 anos que preferiu se identificar apenas pelo primeiro nome, Fábio.
A prática não foi motivada por uma eventual escassez de banheiros químicos disponibilizados pelos organizadores da festa. Nas proximidades, havia conjuntos de banheiros químicos em intervalos de cerca de 50 metros, a maior parte deles com filas com menos de 10 pessoas ou, em pontos um pouco mais afastados do carro de som, praticamente sem necessidade de espera para utilizar os sanitários.
Neste ano, 84 blocos integram o calendário oficial do Carnaval no município, com eventos previstos até 10 de março em diversas regiões da Capital, como a orla do Guaíba e as zonas Norte, Sul e Leste. O desfile oficial ocorrerá nos dias 23 e 24 de fevereiro.