A prefeitura de Porto Alegre recebeu informações técnicas sobre a situação estrutural da ciclovia da Avenida Ipiranga, interditada desde o dia 6 de setembro por medida de segurança, e decidiu que há condições para a reabertura de um pequeno trecho. No restante, a interdição irá permanecer, e o fechamento definitivo da estrutura passou a ser uma possibilidade considerada pelo prefeito Sebastião Melo. Neste caso, a alternativa seria procurar um novo local, possivelmente na pista de rolagem.
Também segue como opção fazer os investimentos necessários para recuperar a ciclovia, mas a dúvida é sobre o quanto isso demandaria de verbas e a relação custo-benefício. A prefeitura interditou a ciclovia da Avenida Ipiranga integralmente depois do desmoronamento, entre julho e setembro, de seis trechos do talude do Arroio Dilúvio, estrutura de sustentação da pista de ciclismo. Em alguns trechos, parte da ciclovia também veio abaixo, em períodos de fortes chuvas. Atualmente, já são oito pontos com desmoronamentos, informa o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae).
Melo anunciou que, após os resultados parciais dos estudos técnicos contratados junto à empresa BSE Engenharia, há indicativo de segurança para reabrir um pedaço menor, das imediações do Shopping Praia de Belas até o Hospital Ernesto Dornelles. Depois deste ponto até o final da Ipiranga, junto à Avenida Antônio de Carvalho, a prefeitura recebeu a informação de que o dano no solo foi significativo e não há previsão de reabertura.
— Parte será liberada até o final do ano. Estamos numa governança forte de prospecção de solo. Pretendo apresentar o mais rápido possível uma proposta. Se mantém ou não mantém (a ciclovia). O que posso dizer é que parte vamos abrir esse ano. O solo está cheio de problemas. Não tem sido fácil — afirmou Melo.
Ainda em setembro, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, havia declarado temor de que os desmoronamentos continuassem. Uma das hipóteses consideradas para os deslizamentos é o serviço de dragagem feito por empresa contratada entre 2022 e 2023, o consórcio Suldrag, para a remoção de sedimentos do Arroio Dilúvio. A possibilidade é de que tenha sido retirado excesso de material orgânico da proximidade do bloco de granito que sustenta o talude por baixo. São citados outros fatores, como a gradual movimentação do solo ao longo de décadas, pressionado pelos veículos que trafegam na pista, o excesso de chuvas em 2023 e a falta de manutenção na ciclovia, cujo piso tem rachaduras.
— Tem problema de toda ordem. Pode desbarrancar. Uns dizem que foi a limpeza (desassoreamento do Arroio Dilúvio com possível escavação excessiva nas bases dos taludes), outros dizem que é estrutural. Contratamos uma empresa que está furando o solo, está medindo. Qual o custo para recuperar isso? Não tenho hoje uma decisão. Parte vamos liberar até próximo do Hospital Ernesto Dornelles, e o restante ainda não vai estar liberado neste final de ano e a partir do ano que vem. Mas eu terei, em seguida, uma posição clara disso — destacou Melo.
Na prefeitura, está em análise a hipótese de investir recursos próprios ou remanejar verbas de financiamentos internacionais para recuperar a ciclovia, caso isso seja considerado viável. Contudo, o próprio Melo destaca que a hipótese de encerrar a estrutura atual está sobre a mesa, com transferência para um novo espaço.
O governo trata a questão com cautela por entender que a ciclovia da Ipiranga é a principal da cidade, utilizada pela população como modal alternativo de transporte, além das atividades de lazer.
Dmae diz que ainda não é possível emitir "parecer definitivo"
O diretor-geral adjunto do Dmae, Darcy Nunes dos Santos, também recebeu informações que constam no relatório parcial da BSE Engenharia, que fez análise do solo nos 16 quilômetros do talude do Arroio Dilúvio, sendo oito quilômetros de cada lado do córrego. O trabalho geotécnico apresentou à prefeitura uma tabela dos trechos considerados críticos, dos que precisam de monitoramento contínuo quanto aos deslocamentos de solo — o que não é perceptível a olho nu — e dos que não têm sinais de instabilidade.
Santos disse que o talude está “doente” e acrescentou outros fatores à deterioração: o baixo nível de manutenção ao longo de décadas, a instalação de linhas de transmissão com postes de grande porte no topo da estrutura, o crescimento de árvores na margem e “diversas cheias que aconteceram no decorrer de 80 anos no arroio”.
Para ele, ainda não é possível emitir qualquer parecer definitivo sobre a ciclovia. O diretor-adjunto, inclusive, menciona que não há certeza sobre a abertura do trecho mencionado por Melo, embora confirme que esteja em cogitação pela equipe técnica.
— Precisamos de garantia que as pessoas podem trafegar com segurança. Das avaliações que já temos, alguns trechos temos de manter interditados para o trabalho de engenharia. Se a gente vai manter a ciclovia no talude, não consigo responder. A engenharia permite qualquer coisa, mas depende do tamanho da despesa e do tempo de interdição e de obra. O grupo de trabalho cogita a liberação inicial de um trecho, esse que o prefeito falou, mas não se tem certeza — afirmou Santos.
Ele ainda detalhou que, em uma segunda frente, estão atuando as empresas contratadas Engeplus e Encop. Elas estão fazendo as sondagens e perfurações necessárias para a elaboração de projetos de reconstrução de cinco dos oito pontos com erosão no talude, com previsão de conclusão em fevereiro. Depois, vem a fase de obras.
Como as reconstruções estão previstas para começar em 2024, Santos diz “não acreditar” em prejuízo para a pista de rolagem da Avenida Ipiranga. Ele afirma que isso somente aconteceria se os buracos causados pelas erosões permanecessem por longo período sem recomposição. É provável que extensões maiores do talude, além do que desabou, precisem de projetos de engenharia para reforço.
— Não dá para reconstruir no modelo convencional, que não está mais suportando os esforços sobre a mureta. Temos de fazer a avaliação geotécnica, estrutural, da estabilidade ou instabilidade desses taludes para ver se é preciso construir outra estrutura de proteção ou se posso fazer o reaterro — destacou Santos.