A semana de calor extremo em Porto Alegre e a proximidade do verão trazem à tona problema crônico em regiões periféricas da Capital: a falta de água. Localidades têm a situação agravada no período mais quente no ano, quando a demanda pelo serviço e o consumo aumentam. Apesar da previsão de um verão mais chuvoso do que nos últimos anos, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) afirma que há, sim, risco de desabastecimento.
Nos últimos dias, marcados pelo calor e tempo seco, localidades do bairro Lomba do Pinheiro, na Zona Leste, estão com torneiras vazias. Na Morada da Colina, na Vila Mapa, moradores estão há cerca de duas semanas sem ter o abastecimento normalizado. A área é uma ocupação irregular, na ponta da rede de abastecimento. Por isso, muitas vezes, a água não chega até as casas.
Desde quinta-feira (14), caminhões-pipa enviados pela prefeitura estão circulando pela região para auxiliar a população mais afetada.
Acostumados com essa realidade, moradores utilizam piscinas de plástico como reservatórios. Dependem da chegada de caminhões-pipa ou do retorno do abastecimento para encher de água.
A dona de casa Renata Rosa, 45 anos, conta que coloca uma mangueira na borda da piscina e deixa a torneira ligada, para que encha o reservatório na medida em que o serviço é retomado. Diz que há 15 dias isso não acontece.
— Quando vem, a gente junta para poder lavar louça, para poder botar no banheiro, para tomar banho, porque nem roupa dá para lavar — relata.
Próximo dali, na localidade da Quinta do Portal, famílias contam que vivem com garrafas pet e baldes para armazenar água.
— O mais difícil é fazer a comida e tomar banho. A gente toma de balde, isso. Quando tem. Isso acontece direto, e a gente não tá nem no verão ainda — afirma o autônomo Carlos Ferraz.
Morro da Cruz
Outra região da Zona Leste onde a falta de água é constante é o Morro da Cruz, entre os bairros São José e Partenon. Em 2021, o prefeito Sebastião Melo decretou situação de emergência em razão da crise hídrica na comunidade, e anunciou ações de curto, médio e longo prazos.
Moradores reconhecem que muitas dessas medidas foram executadas nos últimos anos, como a distribuição de caixas d' água e o aprimoramento da rede. Entretanto, pessoas que moram em diferentes áreas do Morro da Cruz seguem convivendo diariamente com o desabastecimento.
— Foi aumentada a capacidade do reservatório, de água em si, mas a água não vem. Então a gente tem falta de água quase todos os dias. Tem lugares que ficaram três dias sem água nessa semana — afirma Elenira Martins Pereira, vice-presidente do Coletivo Morro da Cruz.
Dmae reconhece risco ao longo do verão
Segundo a diretora de Tratamento e Meio Ambiente do Dmae, Joicinele Fagundes Becker, locais como a Lomba do Pinheiro e o Morro da Cruz poderão enfrentar desabastecimento ao longo do verão. Isso porque, segundo ela, algumas obras ainda precisam ser executadas para aprimorar o bombeamento das estações.
— Muitas vezes a velocidade com que se executam as obras não acompanham a expansão da população e da demanda do local. O que a gente precisa, sim, para os próximos anos é fazer mais ações estruturantes, além das que a gente já vem fazendo para conseguir atacar esse problema. Cada região tem um tipo de demanda específica — afirma a diretora.
Ela reforça que, ao longo do ano foram investidos R$ 15 milhões em obras de melhorias nas redes de abastecimento. Uma delas, prevista para ser concluída em janeiro, vai interligar a estação de tratamento Belém Novo com a futura estação de bombeamento Ponta do Arado, prevista para ser concluída em 2025 e que promete melhorar o serviço para bairros do extremo sul e do extremo leste da Capital.
Sobre a situação no Morro da Cruz, o departamento afirma que está em tratativas para iniciar a obra de uma adutora, que deverá captar a água da Estação Menino Deus, aprimorando o abastecimento no Morro da Cruz. O órgão não informa previsão, mas diz já estar em fase de contratação.