A terça-feira (3) foi de treinos e reconhecimento da pista montada para o torneio Sul-Americano de Hipismo da Juventude, que ocorre na Sociedade Hípica Porto Alegrense (SHPA). Sob olhar ávido dos familiares e treinadores, os competidores testaram a pista antes da competição, que inicia pelos mais jovens nesta quarta.
Até domingo (8), 150 atletas argentinos, bolivianos, chilenos, paraguaios, uruguaios e brasileiros, com idades entre 12 e 25 anos, se reúnem na zona sul de Porto Alegre para disputas divididas por faixa etária.
Para quem vem à Capital, participar de mais uma prova é uma mudança de rotina e tanto. O tetracampeão no Rio de Janeiro e um dos líderes do ranking brasileiro entre 12 e 14 anos, Theo Jordão, 13, por exemplo, precisa conciliar os estudos do 7º ano do ensino fundamental com o cotidiano de atleta.
— A rotina mexe com toda a família. Em semana de competição, temos que controlar bem o sono dele, pois quer ficar mais tempo acordado do que deve. A delegação é que determina os horários dele, mas digo sempre que ele precisa se conhecer e não pode deixar se levar com os colegas no hotel — comenta a mãe de Theo, Graziela Jordão, 46.
Durante as viagens Theo precisa se ausentar das aulas na zona sul do Rio de Janeiro. A mãe explica que graças a um programa de atletas de alto rendimento, ele pode recuperar as provas e atividades depois – com muito estudo em casa, ambos garantem. Eles chegaram a Porto Alegre no último sábado (30) e ficarão até domingo.
Na manhã ensolarada desta terça, o cavaleiro mirim desfilou os primeiros saltos montando SL Onix, 11 anos, cavalo adulto e experiente, com quem o adolescente tem ganho tudo ao longo de 2023.
— Gostei muito deste ano até aqui. Participei de campeonatos, treinei com novos cavalos muito bons. Ganhamos todas as seletivas com o SL Onix, zerados, viemos bem no brasileiro e nas classificatórias — comemora Theo, sem embarcar no favoritismo do técnico dele.
— Essa foi uma p*** pista! É isso que eu quero quando te peço para ir perfeito — vibrou Eric Souto, treinador de Theo desde os cinco anos, recebendo o pupilo com um abraço ao apear do cavalo.
Souto ressalta que o menino tem capacidade de concentração, algo que parece ter sido criado pela alegria dele com o esporte desde antes mesmo de praticá-lo. A mãe, Graziela, lembra que Theo pedia para montar em um cavalo de plástico que ficava em frente ao jardim de infância dele, propaganda de uma escola de equitação, na capital fluminense.
— Um dia incomodei tanto que ela ligou e me levou pra fazer uma aula — ri o cavaleiro mirim.
De lá para cá, uma das principais missões da família e do técnico é dosar a empolgação do adolescente. Ainda no primeiro ano de aulas ele ampliou a frequência da atividade: de um para quatro dias por semana. No ano seguinte, aos seis anos, deu os primeiros saltos da vida. Aos oito estava estreando precocemente na categoria dos nove - com direito a medalha de bronze.
— O Eric sempre foi um amigo neste sentido, pois entendia o momento do Theo e se preocupa em não fazer ele enjoar da atividade — elogia Graziela.
Disciplinas diferentes
Pai e mãe de atleta não montam, mas acompanham o ritmo do galope de perto. De Buenos Aires, Argentina, Gerardo Minuzzi, 61 anos, veio de avião com a filha Joaquina Minuzzi, 13, e a mãe dela, Carolina Albrisi. Gerardo é pai de oito, dos quais apenas um e a mais nova, que ainda nem caminha, não herdaram a carreira no hipismo. Ele foi, entre 1993 e 2022, técnico do time infantil da categoria no país vizinho. Tendo treinado todos os filhos na seleção, nesta segunda garantiu que estava na zona sul de Porto Alegre como pai de Joaquina, que monta desde os três. Tanto que nem foi ao encontro da filha para passar indicações depois da volta de teste que ela performou montando a égua RSLF Esslen, de 14 anos.
— Não é fácil ser pai e treinador ao mesmo tempo. Sendo chefe de equipe, tinha de ser chefe de equipe. Agora sou só pai. A emoção pode aflorar, mas com os anos a gente aprende a controlar ela melhor — detalha, ressaltando:
— É importante o apoio da família. Sem nosso apoio não fazem nada, nessa idade — ressalta.
Graziela, mãe de Theo, também admite que é a maior torcedora e única da família a ficar nervosa quando vê o filho se segurando no lombo do animal quando as quatro patas os lançam a mais de dois metros de distância do chão. Para esta combinação dar certo, com agilidade e sem erros, tanto Graziela quanto Minuzzi enaltecem a presença dos treinadores na família:
— A dupla de cavalo e atleta só funciona com o técnico junto. É um trio que se sustenta — diz, reverenciando Mario Laborda, cavaleiro e treinador de Joaquina em Córdoba, onde ela mora com a mãe.