Fechadas por precaução nesta segunda-feira (25) após oito anos do último acionamento, as comportas localizadas no muro da Avenida Mauá e em pontos próximos formam a parte mais visível da estrutura de proteção contra cheias de Porto Alegre, mas integram um sistema muito maior e mais complexo que muitas vezes passa despercebido – e nem sempre funcionou como o esperado.
Traumatizada desde a enchente de 1941, a Capital montou um amplo mecanismo para manter-se a salvo de outra inundação: envolve o muro da Avenida Mauá, onde fica parte das 14 comportas que se fecham em momentos de alerta, 23 casas de bombas destinadas a despejar a água acumulada de volta ao Guaíba e 24 quilômetros de diques externos que funcionam como barreiras complementares ao muro de concreto erguido no Centro Histórico, onde também há portas metálicas, além de outros diques internos espalhados por diferentes pontos da cidade.
Vias utilizadas diariamente pela população, como a Avenida Castello Branco e a freeway, fazem parte dessa linha de diques. Elas foram construídas em um plano mais elevado justamente para, se necessário, barrar o avanço do Guaíba em direção às ruas internas do município.
— A cota de inundação do Guaíba é de 3 metros. Acima disso, temos o muro da Mauá e o sistema de diques, que inclui freeway, Castello Branco e as orlas 1, 2 e 3, até quase o bairro Ipanema. Só a partir desse ponto, passando o BarraShoppingSul, que os bairros ficam em um nível mais ou menos equivalente ao do Guaíba — afirma o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss.
Nada disso adianta, porém, se as comportas permanecerem abertas. Por isso, seis delas, que não interferem na circulação de pessoas ou veículos, já ficavam fechadas. Das oito restantes, quatro foram cerradas pela prefeitura no meio da tarde desta segunda-feira, e outras duas no começo da noite. As duas restantes — próximo à Avenida Sepúlveda e de acesso ao catamarã, no Cais, permaneciam sob análise.
— Resolvemos começar a fechar as comportas para pecar pelo excesso (de cautela), já que, se o nível do Guaíba subisse durante a madrugada, quando temos menos pessoal, poderia demorar muito (para executar essa ação) — explica Loss.
A precaução se deve ao fato de que as portas metálicas precisam ser movidas mecanicamente, com o auxílio de uma retroescavadeira. Esse processo demora cerca de meia hora a 40 minutos no caso das comportas de uma folha apenas, e uma hora ou pouco mais no caso de duas folhas metálicas (em aberturas maiores, em que se fecham uma contra a outra). Além disso, também são empilhados sacos de areia para reduzir o risco de infiltração da água por meio de alguma pequena abertura.
Conforme o Dmae, depois de problemas verificados em outros períodos de chuvarada, a infraestrutura contra enchentes hoje estaria apta a frear o avanço da água. Em 2015, última vez em que as comportas do Muro da Mauá foram acionadas, diversos pontos da Capital alagaram. Um dos problemas foi a inoperância de muitas bombas que deveriam captar a água das ruas e devolver para o Guaíba - parte delas não funcionava ou não podia atuar ininterruptamente por longos períodos. Maurício Loss garante que o cenário é outro hoje, embora não seja possível descartar a ocorrência de problemas.
— A partir de 2019, quando o sistema foi incorporado ao Dmae, foram feitos investimentos que deixaram todas as casas de bomba funcionando a pleno, com motores novos ou recuperados. Evidentemente que, quando chove muito acima da média e temos o Guaíba já muito alto, o que dificulta o escoamento, a situação pode fugir um pouco ao controle — afirma Loss.