Desde o feriado de 12 de outubro de 2015, sempre que enfrentamos uma nova cheia do Guaíba - que no início da tarde desta segunda-feira (25) está em 2m74cm no Cais Mauá, segundo a Defesa Civil de Porto Alegre -, lembro daquele dia.
Eu estava de plantão na redação de GZH e, naquela tarde, fui chamada às pressas para ir até o muro da Avenida Mauá, em Porto Alegre. Motivo: pela primeira vez desde a década de 1970, o cais teria todas as 14 comportas de contenção de enchente fechadas.
Foi um fuzuê. Saímos correndo, o fotógrafo Omar Freitas e eu. A gente nunca tinha visto as tais eclusas. Na ocasião, o nível do Guaíba atingira 2m89cm, o maior em 74 anos.
Soube, então, que, em 1984, durante outra inundação de grandes proporções, também já se tentara cerrar todas as portas, mas uma delas emperrou. A solução encontrada foi empilhar sacos de areia no local, tamanho o receio de que se repetisse o caos provocado pelo histórico alagamento de 1941. Foi a enchente de 41, aliás, que levou à construção do famigerado muro, separando de vez a cidade do seu belo lago.
Em 2015, deu tudo certo: a totalidade dos portões de ferro se fechou sem problemas, como na década de 1970, inclusive a da entrada principal do cais, com a ajuda de operários e de uma retroescavadeira, sob o olhar de curiosos. Havia motivos para trancafiar o local: com o vento, a água parda e revolta do Guaíba já tinha invadido o píer, formando largas poças sobre os paralelepípedos às margens do leito.
Então prefeito da Capital, José Fortunati acompanhou a operação de perto. Disse que a decisão fora tomada para dar tranquilidade à população. "Queremos que as pessoas durmam tranquilas esta noite", destacou ele.
Havia uma certa desconfiança, na época, sobre como o sistema de contenção - tão pouco usado - funcionaria na prática, caso a água realmente atingisse a murada. Daria conta? Haveria vazamentos? Seria alto o bastante? As autoridades garantiam que sim. Seja como for, por sorte, daquela vez, o Guaíba não chegou até a murada.
Torço para que, agora, também não chegue.
P.S.:
Se você quiser ler o texto que escrevi em 2015, é só clicar aqui.