A elevação do Guaíba nas últimas horas afeta os principais pontos da Orla. No Cais Mauá, o Guaíba chegou a 2m70cm de profundidade na manhã desta quinta-feira (14), após subir 12 centímetros desde a madrugada. Isso significa que o nível está 30 centímetros abaixo da cota de inundação no local — se a marca de 3m é atingida, a água ultrapassa a margem e os degraus de concreto. Mesmo em patamar elevado, o nível estabilizou durante a manhã, segundo a Defesa Civil. O órgão informa que as comportas instaladas no local estão funcionando normalmente e podem ser acionadas em caso de necessidade.
Marcado tradicionalmente por movimento de pedestres, água calma e paisagem atraente, a Orla tinha nesta manhã água quase ultrapassando a margem, lixo represado, vento e pouco movimento. No trecho 1, na beira do Centro Histórico da Capital, o cenário era de ressaca, com garrafas, papel e galhos boiando na água, perto da margem, quase na trilha por onde passam pedestres e ciclistas.
Moradora do Centro Histórico, a arquiteta Letícia Bourscheid, 31 anos, passeava pelo local junto da cadela Ofélia. Letícia ficou assustada com a água quase avançando sobre o trecho que costuma ficar lotado de pessoas nos dias com tempo bom:
— Assusta um pouco, porque moro aqui do lado e frequento bastante esse trecho onde tem as árvores e fico sentada com o meu cachorro, aproveitando o dia quando tem sol. Agora, a água tá quase chegando aqui na parte de passeio e é um pouco assustador.
Alguns pontos como os trapiches estavam parcialmente isolados com telas laranjas, principalmente nos pontos mais próximos da água. O Cais Embarcadero estava fechado ao público. A direção do local afirma que a medida ocorre por segurança, em razão do nível do Guaíba.
Garis e outros trabalhadores de limpeza que atuam no local afirmam que a água estava mais alta no trecho durante a madrugada, com alagamentos chegando nas áreas de trânsito de pessoas. Também relatam o trabalho de recolhimento de lixo. No amontoado de entulho, aparecem itens inusitados, como cadeirinhas de criança, pé de cama de madeira, garrafas pet e restos mortais de animais.
O cenário era bem parecido na maior parte da Orla, em pontos como a área antes de chegar ao Anfiteatro Pôr do Sol e o trecho 3, onde ficam quadras e pistas de skate. O ambiente tinha resíduos acumulados, equipes atuando na limpeza e pouca movimentação de pedestres.
No Pontal, o trapiche, que costuma contar com bom movimento em dias de tempo bom, estava praticamente vazio. Não era necessário muito esforço para enxergar a água do Guaíba, que estava bem próxima da estrutura. Morador do bairro Cristal, o aposentado Eniro Vitt, 72 anos, estava na área. Com utensílios de pesca e carregando um bagre e um jundiá, Vitt disse que é estranho ver a água tão perto do trapiche. Ressabiado, ele brinca que não ficou muito na estrutura.
— Fui ali na ponta e já voltei. Vai que inventa de dar alguma coisa lá e não tem como correr — disse em tom bem-humorado.