Porto Alegre vai ganhar cinco trapiches públicos na orla do Guaíba. A prefeitura formou um grupo de estudos e já trabalha para a concretização do projeto, mantido em sigilo há cerca de oito meses e ainda sem data para efetivação. A reportagem de GZH apurou que o assunto está bastante adiantado, inclusive com os locais já definidos.
Os píeres ficarão localizados nas imediações do Estádio Beira-Rio (perto das pistas de skate); em frente ao Clube dos Jangadeiros (nas proximidades do antigo bar Timbuka); na orla de Ipanema (onde já existe uma rampa disponível); em Belém Novo (próximo às ruínas do restaurante Leblon [Poletto]) e outro na orla do Lami.
O velejador e piloto de avião Cristian Yanzer integra o grupo, onde atua com outros dois colegas de vela dando apoio técnico à prefeitura. Ele compartilha suas impressões sobre as futuras estruturas destinadas à atracação de barcos, que deverão democratizar o acesso da população aos esportes náuticos na Capital.
— Todos os locais já têm provisionamento para dragagem, alguns não precisam como é o caso do ponto perto do Beira-Rio, onde identificamos uma profundidade maior — revela Yanzer, um dos responsáveis por localizar no ano passado, na Lagoa dos Patos, destroços do jato Tiger F-5, pertencente ao Esquadrão Pampa, da Base Aérea de Canoas, que desapareceu em 1982.
Em alguns dos pontos escolhidos, já se tem ideia de como será o funcionamento do embarcadouro. O píer perto do antigo Timbuka, por exemplo, terá a dragagem conectada ao canal do próprio Jangadeiros, permitindo que as embarcações utilizem o canal do clube para chegarem até lá.
— Em todos esses locais serão feitas benfeitorias para a náutica — salienta o velejador.
Na orla de Ipanema já existe uma pequena rampa e enseada de pedras, onde será feita uma barreira de proteção contra ondas. O mesmo acontecerá em Belém Novo, em que o píer ficará ao lado das ruínas de um antigo restaurante. A estrutura ficará virada para sul e terá proteção contra ondas que chegam de oeste.
— Os croquis trabalhados foram pensando realmente em todos os aspectos que envolvem a questão náutica — diz Yanzer, acrescentando: — Os trapiches precisam de calado (termo náutico que significa profundidade certa para que uma embarcação não encalhe), de profundidade suficiente, ou seja, de dragagem.
Os píeres precisarão oferecer resistência às variações climáticas das estações em Porto Alegre.
— A infraestrutura tem que ser capaz de receber qualquer tipo de embarcação com até 2,5 metros de calado em qualquer época do ano — detalha.
De acordo com resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), píeres ou trapiches podem ter até 100 metros de comprimento.
Saiba mais
Apesar de os estudos estarem bem avançados, não existe uma previsão de data para que o projeto seja concretizado. Todos os trapiches passarão por processo de licenciamento ambiental para a realização da dragagem.
— Temos convicção de que uma grande potencialidade de nossa cidade é o Guaíba. O planejamento urbano se estruturou dando as costas para o Guaíba. Estamos tratando de mudar essa realidade — afirma Germano Bremm, titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus).
Futuramente, quando houver licitação e uma empresa responsável pela construção das estruturas, deverão ser promovidos os estudos de batimetria (medição de profundidade até o leito) e desassoreamento.
Dessa forma, a prefeitura espera possibilitar o acesso da população ao Guaíba e, consequentemente, aos esportes náuticos. Isso sempre esteve mais restrito aos associados e frequentadores dos clubes de vela.
Além desses cinco trapiches, a reportagem apurou que ainda está sendo estudado a possibilidade de mais outros dois serem construídos, em pontos a serem escolhidos no Arquipélago.
Os levantamentos iniciais estão sendo coordenados pela Smamus, com auxílio das diretorias de Áreas Verdes; de Licenciamento e Monitoramento Ambiental, além da Assessoria Jurídica da pasta.