A prefeitura de Porto Alegre planeja criar um espaço específico para os cágados na orla do Guaíba. A área sinalizada seria perto do Anfiteatro Pôr do Sol, onde os animais têm aparecido em algumas ocasiões para depositar seus ovos. Porém, para a ideia sair do papel, será preciso aguardar o trecho 2 ser concedido à iniciativa privada pelo governo municipal. Dessa maneira, há a possibilidade de se desenvolver um local seguro para os cágados desovarem e aguardar o nascimento dos filhotes.
"Trata-se de uma área que terá atenção especial por ser de desova dos cágados. Se as obras que forem feitas ali em uma futura concessão gerarem impacto ambiental, esses animais terão um espaço sinalizado", explica, por nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus).
A prefeitura chegou a realizar licitação para cadastrar os cágados que vivem na orla do Guaíba no primeiro semestre do ano passado. Em um estudo de observação por 45 dias, foram avistados aproximadamente 300 cágados. A medida atendia portaria da Smamus e uma ação da 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre.
Por sua vez, a dragagem que seria feita pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), tendo interação com os cágados no Arroio Dilúvio, acabou mudando de lugar. Em função disso, a questão de se criar um espaço para os animais nas imediações do Anfiteatro Pôr do Sol não evoluiu.
Conhecido como cágado-de-barbicha, o animal da espécie Phrynops hilarii costuma viver em torno de 30 anos. As fêmeas colocam, uma vez por ano, cerca de 12 ovos em média. Os ninhos ficam próximos aos cursos d’água. Quando chegam ao tamanho adulto, atingem em torno de 50 centímetros de diâmetro.
Ao contrário das tartarugas, que se desenvolvem na água marinha, os cágados vivem em água doce e se alimentam de peixes pequenos, sementes, anfíbios e frutos.
Saiba mais
Em 23 de fevereiro deste ano, técnicos da Smamus, em parceria com o Sava Iate Clube, soltaram 11 filhotes de cágados na beira do Guaíba, no bairro Vila Assunção, na zona sul da Capital. Os ovos dos animais haviam sido resgatados em novembro de 2021, no Anfiteatro Pôr do Sol, onde não conseguiriam se desenvolver de forma satisfatória. Em seguida, os ovos foram monitorados e ficaram incubados até eclodirem.
Porém, nem sempre o final é feliz. Em 20 de junho de 2020, um cágado e seus ovos foram encontrados despedaçados perto do Anfiteatro Pôr do Sol, possivelmente atingidos por pedradas. Na oportunidade, ninguém foi identificado ou preso.
Conforme diz o artigo 29 da Lei Federal 9.605/1998, matar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, é crime. E a pena é detenção que varia de seis meses a um ano, e multa.
Os cágados também apareceram recentemente em locais como o Parque Farroupilha (Redenção) e o Moinhos de Vento (Parcão). Como não são nativos desses lugares, o mais provável é que tenham sido abandonados pelos antigos donos, o que configura crime de maus-tratos no Brasil pela mesma lei citada anteriormente.