Falafel, shawarma, potes de conserva de arenque, além de música e artesanato, deram o tom da 33ª Festa na Rua promovida neste domingo (28) no Bom Fim, em Porto Alegre, tradicional evento no bairro que serviu de referência para a migração judaica na Capital no início do século XX. Nesta edição, também foram comemorados os 75 anos do Estado de Israel.
Quem passava pelas bancas erguidas ao longo da Rua João Telles até a Henrique Dias podia comprar peças de roupas e bijuterias como se faz em qualquer feira de rua. O diferencial da festa promovida pela Organização Sionista do Rio Grande do Sul, e cuja última edição fora em 2019, antes da pandemia, é conhecer um pouco da história e da cultura judaicas.
Era possível ver crianças conversando em hebraico e jovens de movimentos sociais que vendiam livros que contam a fundação do Estado de Israel, além de quitutes da culinária judaica. Ao lado de colegas do movimento juvenil Habonim Dror, Laura Kives, 22 anos, servia para os clientes falafel no pão pita com húmus e legumes, algo que sabe preparar desde os 15 anos.
- Falafel é uma comida típica do Oriente Médio, feita com grão de bico e especiarias como cominho, que também é muito presente na culinária de Israel. É algo mais popular, que se encontra nas ruas - disse a jovem durante uma folga para a entrevista, já que era grande a fila de famintos pelos bolinhos fritos.
Mirian Bliacheris, 70 anos, oferecia potes de conserva de arenque, um tipo de peixe preparado com temperos e cebola. Cada unidade custava R$ 90 reais, já que o pescado era importado. Mas ela conseguiu vender tudo.
- É um prato delicioso, típico da culinária judaica, que pode ser comido com pão no café da manhã, no almoço e na janta - disse.
A perseguição que aconteceu contra judeus, índios, negros, entre outros, não deve acontecer mais. Não há nada positivo nessas manifestações que reavivam o ódio direcionado a povos
MARIO SPIER, FILHO DE HARTHA SPIER, JUDIA QUE SOBREVIVEU AO HOLOCAUSTO E MOROU EM PORTO ALEGRE
Acima dos quitutes e do clima de harmonia, pairou o sonho de que episódios de extermínio de povos e minorias sociais parem de acontecer. Filho de Hertha Spier, judia polonesa que passou por campos de concentração e conseguiu fugir para o Brasil, o médico Mario Spier, 74 anos, acredita que a festa da comunidade judaica é uma forma de celebrar valores como respeito e tolerância, que servem para qualquer sociedade. Sua mãe instalou-se em Porto Alegre em 1948 e viveu na cidade até falecer, em 2020.
- A perseguição que aconteceu contra judeus, índios, negros, entre outros, não deve acontecer mais. Não há nada positivo nas manifestações que reavivam o ódio direcionado a povos - disse Spier, enquanto circulava pela João Telles ao lado da esposa, a dentista Scheila Behar, 64 anos.
Integrantes da Organização Sionista do Rio Grande do Sul alertam para um recrudescimento das manifestações de apoio ao nazismo. Diretor jurídico da entidade, Deivi Trombka, 44 anos, diz que a entidade atua não só para valorizar a cultura judaica, mas também para combater o antissemitismo e o nazismo, ao denunciar episódios que possam ferir a dignidade dos judeus.
- É uma batalha difícil, porque as punições a quem faz esses tipos de manifestações são superficiais e não há medidas socioeducativas. Estamos preocupados. Vivemos um momento de muita xenofobia. A gente quer viver em harmonia. Quem levanta a bandeira de Israel não está contra ninguém, somente defendendo seu povo - reiterou Trombka.