Mesmo com o céu nublado e pista molhada pela chuva da madrugada deste sábado (27), a região da orla de Porto Alegre amanheceu com um grande grupo de pessoas em uma corrida com fim único: o incentivo a formar uma família sem laços sanguíneos. A 3ª Corrida pela Adoção reuniu 1,4 mil participantes, inscritos nos trajetos de três, cinco e 10 quilômetros.
Na largada, um exemplo do que é o objetivo da ação. Pedro Vitor Romão Aranha, de 9 anos, aguardava para ver a mãe, a engenheira civil Fabiana Barbosa, 50 anos.
—Ele foi um presente que chegou na minha vida. Adotar é uma experiência maravilhosa, é filho da mesma forma — afirmou.
Pedro encontrou os pais quando tinha um ano de vida, em um processo do qual o casal participava há cinco anos. Desde o nascimento, vivia em uma casa de acolhida.
Neste sábado, fez questão de ir à Rótula das Cuias, no encontro das avenidas Aureliano de Figueiredo Pinto e Edvaldo Pereira Paiva, para ver a mãe disputar a prova em que expõe o orgulho da decisão tomada no meio da década passada. Ele também correria a modalidade infantil, logo após a etapa dos adultos.
— Conforme ele foi questionando sobre a gravidez, nós dissemos: “tu é filho do coração, não é da barriga”. Sempre falei que ele é um presente que a gente ganhou — complementou a engenheira.
Segundo a madrinha, Fernanda Barbosa, 45, a adoção do menino é um tema tratado sem tabus, e que ele sempre soube que a diferença para os parentes se resume a traços genéticos.
— Pra nós, a adoção é algo muito natural — afirmou a assistente social.
A estrutura montada à beira do Guaíba tinha tendas com oferta gratuita de massagem, frutas e água para quem participou. Uma figura vestia a mesma camisa rosa do evento, mas decidiu rolar no chão, ignorando a linha de chegada: o labrador Estiador.
— Ele é meu irmão — disse Guilherme Adam Santos, 10 anos.
O cão é mascote da corrida, e assíduo em maratonas e outras competições na capital gaúcha. Foi adotado pelo pai de Guilherme, o locutor das provas, Marcelo Santos, 42.
— Todo mundo quer tirar foto com ele. E uma iniciativa como essa, não tem como não vir, a gente participa de forma voluntária — explicou o locutor.
A 3ª Corrida pela Adoção foi promovida pelo Sesc Redenção, de Porto Alegre, em parceria com o Ministério Público do Rio Grande do Sul e a Associação dos Usuários de Informática e Telecomunicações do RS.
Tem como uma das incentivadoras principais a promotora de justiça Cinara Vianna Dutra Braga, da Promotoria da Juventude de Porto Alegre.
— Essas crianças precisam de atenção, de amor. Aqueles que fazem 18 anos e vão sair também precisam de um teto, senão viram moradores de rua ou vão para as facções — alertou.
Segundo o MP-RS, há em torno de 3,5 mil crianças e adolescentes institucionalizados em abrigos e casas lares aptos à adoção. Porém, 95% desse contigente tem acima de seis anos, que é a idade descrita como máxima pela maioria dos 33 mil pretendentes habilitados no Brasil.
Os valores arrecadados pelo ato serão destinados à melhoria da infraestrutura dos abrigos e das casas lares de Porto Alegre.
Os patrocínios são do Banrisul, Alegrow, Zaffari, PUCRS, Sicredi e Colégio Farroupilha e o apoio do Município de Porto Alegre, Decathlon, Brigada Militar, Instituto Victória Nahon, MPT-RS, Hospital Mãe de Deus e Unimed.