Nunca o simples ato de comprar pizza foi tão celebrado. Aconteceu em maio de 2010, na Flórida (EUA). Um programador de computador chamado Laszlo Hanyecz tentou durante três dias, até adquirir duas pizzas com uma moeda virtual, o bitcoin. Foi a primeira transação de um dinheiro digital para adquirir algo físico na história da humanidade. E neste fim de semana aquela conquista foi relembrada por internautas de todo o planeta, inclusive em Porto Alegre.
Batizado de “Bitcoin Pizza Day", o evento ocorre em vários países e está sendo comemorado em Porto Alegre com um evento no Instituto Caldeira (Travessa São José, 444, bairro Navegantes). Em palcos diversos, 17 palestrantes se revezam neste sábado (27) e domingo (28) na divulgação de fatos curiosos, vantagens e até questionamentos sobre o mundo das criptomoedas.
O bitcoin é uma moeda eletrônica, concebida em 2009 em decorrência de uma crise financeira mundial. Seu criador, um programador conhecido pelo pseudônimo de Satoshi Nakamoto, queria uma moeda que não dependesse de nenhum banco central ou instituição financeira. E deu origem à mais popular das criptomoedas, criada a partir de códigos informáticos gerados automaticamente por computadores ou dispositivos móveis. Ela pode ser criada — em teoria — por qualquer usuário. Mas a quantidade de bitcoins em circulação não pode ultrapassar os 21 milhões, o que lhe propicia uma espécie de lastro (e confiabilidade).
Os palestrantes são unânimes em relatar que as vantagens das criptomoedas são inúmeras, se comparadas com o sistema bancário convencional. A principal é que estão imunes a confiscos do dinheiro por parte de governos, muito comuns em épocas de crise econômica (já aconteceu inclusive no Brasil, durante o governo Collor de Mello, início dos Anos 90). Isso porque é uma moeda internacional, num espaço virtual.
Mas e se o sujeito tiver dinheiro vivo e não conta bancária? Num momento de crise, o papel-moeda pode perder valor em horas. Foi o que aconteceu na Alemanha Oriental (quando esse país se dissolveu) e na Venezuela, para ficar em dois exemplos recentes. A inflação corroeu o poder de compra.
É aí que muitos cidadãos preferem utilizar ouro e prata ao invés de cédulas. São bens que não desvalorizam e possuem liquidez universal. Só que não estão imunes a um problema: o roubo ou confisco governamental. Esses metais são físicos, portanto, subtraíveis.
Foi para driblar todos esses dilemas que foram criadas as criptomoedas, um sistema financeiro alternativo, imune a governos e bancos. As transações são anônimas, com segurança garantida por códigos numéricos gerados virtualmente, explica um dos organizadores do Bitcoin Pizza Day em Porto Alegre, o filósofo e estudante de Ciências Contábeis Rodrigo Furtado. Ele exibiu, entre outras, fotos das primeiras pizzas compradas com bitcoins pelo norte-americano Laszlo Hanyecz, o início desta saga moderna.
Apesar do sucesso, as criptomoedas não estão imunes a problemas. Caso alguém deixe aberto o computador ou tenha sua senha furtada de alguma forma (por um hacker, por exemplo), o investidor pode em alguns segundos perder seu dinheiro virtual.
Outra questão é que, ao contrário de algumas operações bancárias, com bitcoins não há devolução de valores perdidos. Uma vez feita a transação, ela não é desfeita.
Mesmo assim, os participantes do "Bitcoin Pizza Day" não abrem mão das moedas virtuais. O evento foi transmitido pela internet e mais de 100 pessoas pagaram R$ 99 por cada dia de palestras. Ao final deste primeiro dia de debates, celebraram com cerveja e muita pizza. Pagáveis em criptomoedas, claro.