No começo do mês, uma mineradora de criptomoedas que funcionava em um sítio no interior de Morro Reuter, no Vale do Sinos, foi fechada por furto de energia elétrica durante uma operação da Polícia Civil. Na ação, duas pessoas foram presas em flagrante, incluindo o dono da propriedade — um empresário do ramo da indústria com atuação em Dois Irmãos e Campo Bom.
Em uma analogia à extração de ouro, a mineração de criptomoedas é a forma como esse dinheiro digital é "garimpado" por computadores superpotentes. A atividade, que vem se tornando cada vez mais competitiva, exigindo investimentos em maquinários cada vez mais avançados, também recebe críticas em razão de impactos ambientais, como o alto consumo de energia elétrica.
Criptomoeda é uma moeda digital que não é emitida nem controlada por governos e bancos. São basicamente linhas de código criptografadas, que só podem ser acessadas com as chaves de cada usuário.
A transação com essas moedas é feita entre os agentes que as detêm, de forma totalmente online. Há diferentes tipos de criptomoeda — o bitcoin é a mais conhecida.
Para obter criptomoedas, é preciso comprá-las no mercado financeiro, por meio de corretoras ou "exchanges", com pagamento em moeda corrente, ou fazer a mineração, processo que permite que novas unidades de criptomoeda sejam geradas. Para esta última, computadores de alta tecnologia precisam resolver problemas matemáticos criptografados, que significa que eles irão validar informações contidas nesses códigos.
Quando esse processo de validação é concluído, o minerador recebe, como pagamento, determinada quantia em criptomoedas que estavam armazenadas e agora passarão a circular no mercado. É como uma competição entre os mineradores, explica o gestor de renda variável da Warren, Eduardo Grübler:
— Minerar é resolver esses protocolos criptográficos que garantem a veracidade das informações. Então, os mineradores estão competindo para resolver esses protocolos o mais cedo possível. Assim, ele é remunerado: as moedas são criadas e vão pra a conta do minerador.
Para fazer a mineração, as máquinas acessam o chamado blockchain, uma espécie de sistema base em que ficam conectados todas os computadores. Nessa rede, é compartilhada entre os mineradores um "livro razão", em que ficam registradas todas as informações sobre transações.
Escassez provoca valorização
Cada vez mais competitivo, o mercado fica cada vez mais escasso. Conforme o especialista em criptomoedas Rocelo Lopes, no caso dos bitcoins, já foram minerados cerca de 90% de todas os disponíveis — quase 19 milhões dos 21 milhões existentes. Mas a moeda é valiosa: cada bitcoin vale, atualmente, cerca de US$ 45 mil, explica Lopes. A média de ganho, segundo ele, é de 7 bitcoins a cada resolução de código.
— É um meio completamente diferente do que estamos acostumados a ver quando falamos de dinheiro, de transações. Atualmente, não é mais possível fazer mineração de forma independente, de um computador pessoal, por exemplo. Hoje, para entrar nessa área, é preciso de um investimento inicial na casa de R$ 5 milhoes de reais em equipamentos, isso sem contar o gasto com energia elétrica para abastecer as máquinas funcionando. No Brasil, não é uma atividade rentável, em razão do custo da energia — avalia.
Devido a alta volatilidade, não é recomendado investir todas suas economias em moedas digitais. Por não serem reguladas por bancos, o risco é mais alto que outros investimentos tradicionais.
Custo de energia é desafio
Há dois custos principais para colocar essa atividade em prática: o investimento em equipamentos e o gasto com energia elétrica. Devido ao alto custo da conta de luz no Brasil, a mineração de criptomoedas no país não se torna muito atrativa: é comum que mineradores acabem migrando para locais com custo de luz mais em conta, explica Grübler.
Em razão desse alto consumo de energia, a atividade recebeu críticas recentes por trazer impactos ao meio ambiente.
— Essas máquinas precisam de muita energia, porque elas estão computando, fazendo cálculos em uma velocidade muito, muito rápida. Por isso, essa atividade costuma ser realizada em lugares em que o custo com energia é mais barato, como na Sibéria e na Islândia. É comum que quem trabalha com isso migre para essas regiões — pontua Grübler.
No caso de Morro Reuter, alvo de operação da Polícia Civil, a medição indicou que o consumo de eletricidade na propriedade chegaria a R$ 100 mil mensais, se ocorresse de forma regular.