Com projeto já aprovado pela prefeitura de Porto Alegre desde meados de 2022, a revitalização da área esportiva do Parque Moinhos de Vento, onde ficam o cachorródromo e as quadras de futebol, ainda não tem previsão para sair do papel. As obras serão financiadas na forma de doação pelas empresas que adotaram a conservação do Parcão. Como o investimento é considerado alto, estimado em R$ 4,5 milhões, as empresas ainda estão definindo de que forma irão custear a revitalização.
A área esportiva do Parcão faz contraste com a parte mais famosa do parque, onde ficam o lago e o moinho. Do lado direito de quem passa pela Avenida Goethe em direção à Rua 24 de Outubro, poucos pedestres são vistos e os espaços permanecem desocupados durante a maior parte do dia. Além disso, alguns equipamentos estão envelhecidos ou quebrados.
A reportagem de GZH esteve no lado menos badalado do Parcão na tarde de terça-feira (9) para verificar a estrutura do local e constatou que, de forma geral, as condições são razoáveis, parecidas com as de boa parte dos parques da Capital. A manutenção básica, como o corte de grama e o recolhimento do lixo, por exemplo, está em dia.
Por outro lado, é perceptível a falta de cuidado com alguns itens. As duas cestas da quadra de basquete estão quebradas, o gramado do campo de futebol é irregular, os caminhos acumulam barro, o único bebedouro encontrado pela reportagem não funcionava e em boa parte do cachorródromo há chão batido em vez de grama. Além disso, há relatos de pedestres sobre temor com a segurança no local.
— Tem umas lâmpadas queimadas, precisa arrumar. Olha aqui esse ferro (aponta para equipamento de ginástica que está quebrado, sem assento), tem que dar uma revisada. Mas não vem ninguém, né — comenta o arquiteto Jorge Berthier Alves, 72 anos, que costuma se exercitar no local.
Apesar dos problemas, há quem prefira o lado esportivo do Parcão.
— Eu acho ótimo. Gosto mais desse lado do que do outro. O outro lado é mais bonito, aqui é mais calmo. Mas depende do horário, no final de tarde o cachorródromo fica cheio — observa José (não quis revelar o sobrenome), de 65 anos, que corre todos os dias pela região.
Em novembro de 2022, quando o Parcão completou 50 anos de história, a prefeitura da Capital divulgou a informação de que já havia aprovado a revitalização da área. O projeto foi contratado e elaborado pelas empresas que adotaram o parque, com ajustes da administração municipal.
Agora, o início efetivo das obras depende do cronograma estabelecido pelas adotantes. Como se trata de uma doação, são as próprias empresas que definem o prazo para o começo dos trabalhos.
— Estamos falando de um projeto milionário, que deve custar alguns milhões. A implementação do projeto vai se dar por fases. Elas estão se organizando em termos de recursos. Mas são obras de doação, não existe obrigação nenhuma — explica o diretor de Áreas Verdes da Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade da Capital, Alex Souza.
Conforme o diretor, a prefeitura poderá contribuir com parte do custo da revitalização por meio de contrapartidas de outros empreendimentos. Não há previsão de investimento público na obra.
Atualmente, cinco empresas são adotantes do Parcão: Hospital Moinhos de Vento, Melnick, Panvel, Grupo Zaffari e Tramontina. Como o valor é alto, a prefeitura busca mais parceiros para executar a obra.
— Estamos tentando ver se conseguimos trazer mais um ator, dois ou três, que pudessem colaborar com esse projeto. Há uma vontade dos adotantes de fazê-lo, mas realmente, pelo valor, acaba sendo difícil. Vai acontecer, é uma questão de tentar se buscar mais parceiros, alguma maneira de ajudar — diz a secretária de Parcerias Estratégicas da Capital, Ana Pellini.
Em nota enviada à reportagem, o Grupo Zaffari informou que a companhia "faz parte do grupo de empresas mantenedoras do Parcão, e, no momento, desenvolve em conjunto com as outras quatro empresas mantenedoras do espaço os projetos de melhorias que serão implementadas no parque. Após a aprovação dos projetos pela Secretaria Municipal de Parcerias, as obras serão executadas".
Revitalização em setores
A revitalização da área esportiva do Parcão será dividida em dois setores. O primeiro fica mais próximo às ruas Dr. Timóteo e Dr. Poty Medeiros. São previstas duas quadras poliesportivas, quatro de beach tennis e uma de futevôlei, além de arquibancada para as quadras de areia.
Nesta parte, também foram projetados espaços para abrigar parquinho infantil, três áreas de estar, praças, academia ao ar livre e espaços de alimentação. Parte das instalações já existe e a estrutura precisará ser reformada para se adequar ao projeto (confira o mapa abaixo).
O segundo setor fica na outra extremidade, onde está o cachorródromo e a Escola Estadual Uruguai. O campo no qual as crianças jogam futebol em goleiras menores, improvisadas, deverá ser transformado em dois de futebol sete, menores. Já o cachorródromo deverá ser totalmente revitalizado.
As novidades da segunda área serão espaços para ping pong, futmesa, mesas de xadrez e um novo parquinho infantil, além de locais de descanso e contemplação. A administração do Parcão irá permanecer no mesmo local, entre o primeiro e o segundo setor.
Mães de alunos de 10 anos que estudam na Escola Uruguai, Paloma Nunes e Mônica Wiegels aprovam as mudanças propostas no projeto. Elas avaliam que a redução do tamanho do campo de futebol será positiva para as crianças. Paloma e Mônica dizem que a principal preocupação delas não é a estrutura, mas a falta de segurança.
— Eu acho que deveria ser mais seguro. O outro lado é bem mais seguro do que aqui — afirma Paloma, que já ouviu relatos sobre assaltos sofridos por outras mães na região.
Conforme o comandante do 9º BPM, tenente-coronel Fábio Schmitt, foram registrados quatro roubos a pedestres nos arredores do colégio, entre fevereiro e abril deste ano. Schmitt ressalta que a Brigada Militar mantém o policiamento rotineiro na região — a pé, com cavalos e motorizado.
— São pouquíssimas ocorrências registradas. Ali nós fazemos policiamento 24 horas por dia e sete dias por semana. Podem ter cifras ocultas (ocorrências não registradas), mas isso não chegou ao nosso conhecimento. A Brigada Militar está sempre à disposição — esclarece o comandante.
Schmitt reforça que, "de noite, a recomendação geral é não andar com objetos de valor e andar acompanhado, em lugares com maior iluminação".