Palavra-chave do South Summit — que ocorre entre esta quarta (29) e sexta-feira (31), a inovação se mostra mais do que um apanhado de novas ideias ou processos. Há dois consensos entre os principais especialistas do Estado: o primeiro é de que se trata de pedra angular para o desenvolvimento econômico e, a partir dele, dos demais aspectos. O segundo vai pela linha de que o maior evento do tema na América Latina contribui para consolidar esse conceito em todos os agentes da sociedade.
Alguns efeitos já podem ser percebidos, direta ou indiretamente. Um deles é a quantidade de startups inscritas na competição desta segunda edição. Foram 2.020 iniciativas, para que 50 fossem selecionadas — mais do que o dobro do ano passado, quando mil participaram.
São projetos de mais de 80 países, o que ilustra outro reflexo do evento: as entradas de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil no mapa global da inovação.
— Estamos no primeiro lugar em inovação no ranking do Centro de Liderança Pública, à frente de Estados importantes como Santa Catarina e São Paulo. O South Summit vem para coroar isso, incentivando e impulsionando novos negócios — celebra o vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza.
Para o CEO do Sebrae-RS, André Godoy, a chegada do evento foi a abertura de uma janela para a reconversão da matriz econômica da região, ainda bastante centralizada na atividade agroindustrial — que enfrenta reveses como o da estiagem, atualmente. Isso porque investidores de todo o mundo passaram a lançar um olhar pormenorizado sobre o ecossistema local de inovação.
— O evento é a oportunidade de pensar tudo isso. Portanto, um acontecimento muito positivo para o Estado e para o país. E ainda gera uma movimentação gigantesca em termos de serviços que são mobilizados, desde as montadoras dos estandes, hotelaria, alimentação, transportes aéreo e rodoviário. Tudo muito importante para deixar renda no município e no Estado — completa.
Sistema coeso atrai investimentos
Para consolidar todo esse processo, é preciso que os investidores vejam o ecossistema como ele realmente é — e não um aglomerado de iniciativas desencontradas, estágio que parece superado e tende a ficar cada vez mais para trás. Essa coordenação passa fundamentalmente pelo encontro de empreendedores, do poder público e das instituições de ensino em um evento como o South Summit.
Desde a primeira edição, diversos municípios se interessaram em adequar suas leis para dar guarida a iniciativas inovadoras, hubs e parques tecnológicos. Universidades e coletivos criaram ou aprimoraram conexões que convergem para um ambiente disruptivo. Todos eles têm a oportunidade de se alinhar ao que o mundo todo espera nas próximas décadas e, a partir daí, atender a demandas globais.
— Quando a gente visitava outros países, percebia que as empresas já nasciam com olhar global, e a gente nascia olhando o ecossistema local, nem era nacional. Essa troca é muito saudável. Já se vê um crescimento em qualidade e quantidade no segundo concurso de startups — exalta o secretário de Inovação de Porto Alegre e coordenador do Pacto Alegre, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho.
O diretor-executivo do Instituto Caldeira, Pedro Valério, vai na mesma linha. Ele defende que o evento funciona como uma plataforma de acesso dos empreendedores locais aos principais atores internacionais de inovação. Mais do que isso, promove a temática para fora da bolha do ecossistema.
— No momento em que a sociedade abraça uma prática como essa, mostra a relevância que o tema da inovação e da tecnologia tem dentro desse contexto. É uma oportunidade de despertar em relação a essa pauta, para muitas pessoas que ainda não estão vinculadas a esse ambiente — acredita.
O instituto é um dos hubs que têm se consolidado em diversas regiões do Rio Grande do Sul. Eles concentram startups em diferentes estágios de desenvolvimento em um ambiente que dá propulsão para todas elas e facilita o contato com outras iniciativas e com o mercado.
Para o CEO da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Luiz Othero, o South Summit é mais um sinal de amadurecimento.
— A região tem atraído um número crescente de investidores e empreendedores, fomentando o desenvolvimento de startups em diversas áreas. O Estado tem incentivado o empreendedorismo com políticas públicas e programas de aceleração, incubadoras e financiamento, tornando-se um importante polo de inovação e empreendedorismo no país — destaca.
Ciência rumo ao futuro
As universidades têm um papel importante na sustentação dessa engrenagem. Com parques tecnológicos que reúnem pesquisadores, estudantes e empresas, elas ajudam a compreender as demandas da sociedade e a encontrar soluções viáveis. Por isso, têm lugar cativo nas mesas de discussão sobre inovação.
— Nossa cultura, gaúcha, demorou um pouco para entender que não vamos ganhar jogando sozinhos. Precisamos formar alianças. Hoje o mercado entende que mesmo empresas competidoras podem trabalhar em parceria porque o ecossistema vai ganhar mais — saúda o head do Tecnopuc Startups e embaixador do South Summit, Rafael Chanin.
Ele dá o exemplo da Aliança para Inovação, criada em parceria por Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) — algo que, segundo Chanin, era impensável há 30 anos. Hubs temáticos também se destacam nesse sentido, procurando soluções específicas para grandes cadeias produtivas, como saúde, agronegócio, educação e serviços financeiros.
— Busca-se o desenvolvimento de diversas formas, mas cada vez mais tem sido reconhecido que a inovação é o propulsor. Esses atores se sensibilizam para isso. A universidade passa a se preocupar com empreendedorismo e inovação, além de ensino, pesquisa e extensão, e o poder público cria leis, estabelecendo condições jurídicas que favoreçam a inovação. Eu imputo essa mobilização ao South Summit — analisa o gestor-executivo do Tecnosinos e diretor da Unitec, Silvio Bitencourt.
O encontro de lideranças mundiais em tecnologia e inovação, que trabalham por soluções viáveis para os problemas da sociedade, traz otimismo aos especialistas locais. Os primeiros efeitos já foram percebidos e a expectativa é que o principal deles seja notado entre uma edição e outra: o desenvolvimento do ecossistema, com geração de negócios e a transformação da vida das pessoas.
- Em 2022, o RS rompeu a barreira de 1 mil startups
- Em outubro de 2022, eram 1.144
- Isso representava 5,1% das startups brasileiras
- Porto Alegre concentra 56,87% das empresas do gênero no Estado
ANTES E DEPOIS DO SOUTH SUMMIT
Especialistas ajudam a entender os principais reflexos de sediar o maior evento de inovação da América Latina. Confira o que fica partir do depoimento dos entrevistados nesta reportagem:
- ENTRADA NO MAPA
Fundos de investimento periodicamente visitam o Estado para conhecer e se associar a iniciativas locais — que, cada vez mais, abrem a visão para soluções globais. Segundo o secretário de Inovação de Porto Alegre, cerca de 180 aviões a jato particulares pousaram na cidade para que executivos de grandes empresas vissem de perto o que estava acontecendo no South Summit do ano passado.
- MENTALIDADE COLETIVA
A sociedade gaúcha tem dado provas de que despertou para a compreensão de que a inovação é um vetor para todo tipo de transformação econômica e social. A profusão de iniciativas em todas as regiões consolida esse processo.
- AMADURECIMENTO DAS STARTUPS
A vencedora da edição anterior, Yours Bank, focada em educação financeira para menores de 18 anos, já recebeu aporte do Banco do Brasil — o primeiro de venture capital da instituição. Reflexo do que significa se destacar em um evento dessa magnitude.
- GRUPOS TEMÁTICOS
O South Summit incentiva a criação de comitês que discutem e buscam soluções em áreas específicas. É o caso do Unicred Porto Alegre Health Alliance – Programa de Inovação e Empreendedorismo na área da saúde, que tem participação de universidades, hospitais, incubadoras de startups, poder público e entidades empresariais.