O número de ocorrências de incêndios em residências cresceu 95% em Porto Alegre. Em relação à vegetação, o aumento é ainda mais significativo, 139% (confira os detalhes abaixo). Os dados são do Corpo de Bombeiros e foram divulgados durante encontro para tratar do tema, na tarde desta sexta-feira (13), realizado no auditório da Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio (Smap) da prefeitura da Capital.
— São dois fatores basicamente que nos preocupam: a questão da rede elétrica, com muitos gatos e sobrecarga de energia, e o empobrecimento da população, o que faz as pessoas não cozinharem mais com gás, mas com madeira — afirma o secretário de Habitação e Regularização Fundiária de Porto Alegre, André Machado, que coordenou o encontro entre diversas secretarias e órgãos municipais.
Foram citados como exemplos, incêndios recentes como o da Ocupação Povo Sem Medo, localizada no bairro Sarandi, ocorrido em 22 de dezembro. Na ocasião, duas crianças morreram por causa do fogo dentro de um barraco.
— A família não tinha recursos para cozinhar com gás. Estavam fazendo fogo com madeira — lembra Machado, enumerando outros incêndios, como o de quinta-feira (12), no bairro Navegantes, que destruiu quatro casas.
O Corpo de Bombeiros diz que a principal recomendação para a população é acionar imediatamente o telefone 193.
— Do dia 4 de janeiro até hoje (sexta-feira), foram 11 residências queimadas. É quase uma por dia — compartilha a major Jaqueline da Silva Ferreira, que responde pelo 1º Batalhão de Bombeiros Militar de Porto Alegre.
Um caminhão de bombeiros pode levar até cinco militares para o atendimento de uma ocorrência. Porém, 30% do efetivo está cedido para atuar na Operação Verão. Segundo a bombeira, em relação ao princípio de incêndios em áreas de vegetação, é importante estar atento para algumas atitudes.
— Não é apenas a bituca do cigarro deixada à beira de estradas que gera incêndios. O lixo acumulado que solta gases também — alerta.
O Hospital de Pronto Socorro (HPS) percebe aumento no atendimento ao número de pessoas com queimaduras ocasionadas pelas mais diversas situações.
— Atendemos mais de 200 pessoas por mês no HPS por queimaduras. Dessas, de 20 a 25 ficam internadas e precisam passar por cirurgias — relata o coordenador de enfermagem da UTI de Queimados do HPS, Tiago Fontana.
Conforme Fontana, a população carente tem feito fogo de forma artesanal em função da falta de condições para comprar gás. As espiriteiras (espécie de lamparina a álcool) são usadas, as crianças passam correndo, derrubam e o fogo começa nos barracos. O coordenador orienta o que fazer quando a pessoa se queima na roupa.
— Se pegar fogo na roupa, a pessoa deve deitar e rolar no chão — ensina.
Segundo Fontana, há um idoso internado no HPS que estava cozinhando, o fogo pegou na roupa e ele não teve reação.
— O paciente está com 50% do corpo queimado — lamenta.
O secretário adjunto da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), Maurício Loss, apela para que a população não acumule materiais e tenha cuidado para não jogar bitucas de cigarro em qualquer lugar.
— Que o pessoal manipule fogo apenas em fogões e churrasqueiras.
A chefe de gabinete da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Ana Rangel, observa quem mais sofre as consequências dos incêndios nas comunidades.
— As maiores vítimas são as pessoas mais vulneráveis — diz, salientando que há muitos acumuladores armazenando material em suas residências, o que pode aumentar as chances de um incêndio.
Incêndios em residências
Período: 17/12/2021 até 04/01/2022
- Ocorrências: 22
- Ocorrências com reforço de mais de um caminhão: 5
Período: 17/12/2022 até 04/01/2023
- Ocorrências: 43
- Ocorrências com reforço de mais de um caminhão: 18
Aumento de 95% no número de ocorrências na comparação entre os dois períodos.
Incêndios em vegetação
Período: 17/12/2021 até 04/01/2022
- Ocorrências: 73
- Ocorrências com reforço de mais de um caminhão: 4
Período: 17/12/2022 até 04/01/2023
- Ocorrências: 175
- Ocorrências com reforço de mais de um caminhão: 14
Aumento de 139% no número de ocorrências na comparação entre os dois períodos.