A reportagem de GZH visitou os pontos do Arroio Dilúvio que passam pelo processo de desassoreamento, desde março do ano passado, em Porto Alegre. Nesta quarta-feira (11), a primeira parada aconteceu na Avenida Ipiranga esquina com a Antônio de Carvalho. Além de um sofá, havia galhos e plásticos na água no trecho que já havia recebido a limpeza do leito.
— Acho que é preciso fazer mais campanhas de conscientização para o pessoal descartar o lixo direito — sugere o comerciante Osvaldo Vieira, de 58 anos, morador das proximidades do Arroio Dilúvio.
Conforme o comerciante, que observava o sofá abandonado em um trecho limpo recentemente, a população em situação de rua também deve ser conscientizada.
— Os moradores de rua abrem os sacos de lixo, pegam o que querem e descartam o resto no arroio — atesta, dizendo já ter testemunhado roupas sendo jogadas nas águas.
No último dia 4, a reportagem mostrou que a dragagem já retirou 4,5 mil caminhões carregados de detritos do Arroio Dilúvio. Mais de 55 mil metros cúbicos de detritos já haviam sido retirados das águas do córrego que nasce em Viamão, na Região Metropolitana, e segue o curso em meio a Avenida Ipiranga até desembocar no Guaíba.
Em trecho localizado perto da Rua Professor Cristiano Fischer, em frente à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a água fluía com facilidade, porém precisava desviar de algumas ilhotas. Quase não se percebia lixo neste ponto, mas a vegetação dentro do arroio representava uma barreira no curso da água.
Nas imediações da Rua Doutor Salvador França, outro sofá estava preso em uma das pequenas barragens do Dilúvio. Porém, apenas uma embalagem de leite se destacava na água, que fluía sem dificuldades. Neste ponto, se percebia pouca vegetação. Um pouco adiante, na altura da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), era possível ver uma cadeira de escritório na água.
O ponto aparentemente mais limpo e em melhores condições visitado pela reportagem se encontra nas imediações da Rua Santa Cecília, em frente ao Zaffari. O volume de água parece mais alto, o que facilita a fluidez em direção ao Guaíba. Operários consertavam parte do talude em um ponto situado nesta área.
Na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Silva Só, em frente ao empreendimento Square Garden, o nível da água se mantém alto e há pouco lixo na água. Metros adiante, o cenário é outro. Na altura do McDonald's, esquina com a Rua São Manoel, a reportagem contou seis pneus, uma roda e um tênis perdido na água. Também havia pedaços de madeira espalhados. Um sofá estava abandonado no arroio quase na mesma linha do relógio digital que existe naquele trecho da Ipiranga. Apesar de tudo, a água fluía normalmente e quase não se encontrava vegetação formando ilhotas.
Outro ponto visitado foi no cruzamento com a Rua Ramiro Barcelos, onde a prefeitura dragou há poucos meses trecho em frente ao Planetário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em outubro do ano passado, montes de detritos de três metros de altura se agigantavam à beira do Dilúvio. GZH mostrou que os números já ultrapassavam em duas vezes o que foi retirado dos escombros da antiga sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP), após ser implodida por dinamite em 6 de março de 2022.
Entretanto, o panorama agora é outro neste trecho. Nas imediações da Ponte Mário Rigatto, o nível da água está mais alto, não se vê quase vegetação formando barreiras e apenas um pneu aparecia boiando no Dilúvio. Ou seja, quanto mais próximos ao local atual de dragagem, os pontos se apresentam em melhores condições.
O desassoreamento do Arroio Dilúvio se concentra neste momento em pontos localizados em frente ao Hospital Ernesto Dornelles e pouco adiante da Avenida da Azenha. Três escavadeiras trabalham perto da instituição hospitalar. Montes enormes de resíduos podem ser vistos, mas a água está com nível elevado.
— É um descaso com o arroio. A população poderia colaborar e não jogar lixo dentro. O pessoal passa de carro e joga lixo na água — relata o vigilante Emanuel Ayala, 38.
Por sua vez, no trecho quase em frente à sede da Polícia Federal, duas escavadeiras executam a dragagem. O nível da água estava alto e havia alguns pneus dentro do arroio, e seis empilhados perto do talude. Montes de três metros de altura se estendiam em direção ao cruzamento com a Avenida Erico Verissimo.
A prefeitura informou, por meio do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), que o trecho entre a Rua Santa Cecília até a Ramiro Barcelos era o que concentrava maior volume de detritos. Foram retirados 18.972 metros cúbicos de dejetos deste ponto.
Atualmente, o consórcio Suldrag é o responsável pela operação de desassoreamento. Os detritos orgânicos são transportados para um aterro localizado no bairro Lami, na Zona Sul. O que pode ser reciclado acaba sendo encaminhado para outros locais.