Centenas de pessoas formaram fila junto à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, no bairro Farroupilha, para garantir a atualização de dados ou fazer pela primeira vez o Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal — porta de entrada para benefícios de assistência social. As primeiras chegaram ainda na tarde de quarta-feira (13).
A ânsia pelo cadastro também está no interesse em garantir o Auxílio Brasil, que passará de R$ 400 para R$ 600 até o final do ano. O prazo para a revisão cadastral terminaria nesta quinta (14), mas foi prorrogada pelo governo federal durante a manhã.
Por volta das 6h30min, a fila na Avenida João Pessoa ia da esquina com a Venâncio Aires até a Rua Lopo Gonçalves. Eram mais de 200 pessoas no local, abrigadas junto às marquises dos prédios.
Algumas, como a desempregada Roselaine Guimarães Cabral, 48 anos, chegaram na tarde passada.
— Vim da Restinga, cheguei ontem (quarta-feira) às 18h. Não tinha dinheiro da passagem, mas graças a Deus o motorista disse que me dava uma carona pra fazer Cadastro Único — contou ela, que tem uma filha de 13 anos.
Quanto mais a fila crescia, mais aumentava a indignação de quem esperava. Luis Fernando Ribeiro da Silva, 58 anos, que trabalha com reciclagem, era um deles.
— Por que não tem alguém da prefeitura aqui pra dizer quando o número de pessoas já passou, para não fazer gente esperar em vão? — questionou.
Noite na fila
O pequeno Ravi, de dois meses, passou a noite de quarta e a madrugada de quinta dentro do carro da família, enquanto seus pais guardavam um lugar na fila. O veículo é alugado por Josef Raul de Araújo, 33 anos, e utilizado para fazer transporte de aplicativos, um complemento na renda de casa. Ele perdeu o emprego em 2020. Sua esposa, Samara Martins, 34, largou o trabalho quando engravidou de Ravi, pois os médicos alertaram ser uma gestação de risco. Ficou 37 semanas em repouso absoluto, e somente agora pôde ir atrás do Auxílio Brasil.
— Tudo pelo Ravi. Eu já tinha perdido uma gravidez de gêmeos — explica Samara.
O casal foi atendido às 10h desta quinta-feira (14), mas, para isso, chegou ao prédio municipal às 23h de quarta. Eles estavam com a ficha número 85, substituída por uma preferencial assim que as portas da sede foram abertas. Os dois haviam tentado antes uma vaga no Centro Vida, referência para quem mora na Zona Norte. No entanto, o espaço já estava sobrecarregado, com as 60 senhas distribuídas.
Já na rua, próximo das 11h, Samara mostrava o comprovante de cadastro realizado com sucesso. Além do bebê, o casal tem outros quatro filhos.
— Pode levar de poucos dias a um mês pra entrar o benefício — comentou Samara, esperançosa para que o menor prazo se cumpra.
A capacidade de atendimento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social é de 120 pessoas em um dia. Há ainda um posto montado no Sine, no Centro Histórico, que igualmente entregou 80 números para organizar a fila. As senhas em todos os locais foram entregues logo cedo e uma parte do público ficou de fora. Pediram à prefeitura que descentralize esse serviço, o que é estudado pelo Executivo.
Fabiano Carvalho, 41 anos, estava perto do limite de ter o auxílio cancelado — quando o beneficiário fica quatro anos sem der sinal de vida é excluído do sistema. A data, causadora de toda correria, foi prorrogado pelo Planalto até 31 de julho.
— Quero arrumar um emprego, não pretendo viver do benefício muito tempo — pondera o construtor.
Quem precisa atualizar o cadastro tem de cumprir um prazo de dois anos, evitando suspensão dos pagamentos. Esse prazo foi estendido até 31 de dezembro.
Atualização pelo site
De acordo com a coordenação da Gestão de Benefícios e Cadastro Único da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), as famílias que não têm alterações em seus dados cadastrais podem fazer a atualização pelo aplicativo do Cadastro Único. O certificado do Número de Inscrição Social (NIS) pode ser acessado e impresso pelo site.
A Fasc garante que não não é preciso ficar na fila e que há fichas para todos. Conforme o órgão, mais equipes foram colocadas para auxiliar no atendimento.
Nos 22 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), o atendimento é prioritário às famílias acompanhadas pelas equipes técnicas do território. Já as pessoas que não são atendidas nos CRAS podem procurar uma das três unidades abaixo, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h:
- Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social – Avenida João Pessoa, 1105, sala 2
- Vida Centro Humanístico: Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, 2132 – sala 656, área 6 – Sarandi
- Sine Municipal: Avenida Sepúlveda, esquina com Mauá - Centro Histórico