Um case de como reduzir o custo do setor de saúde usando tecnologia será apresentado no primeiro dia do South Summit Brasil, evento de inovação que ocorre entre esta quarta (4) e sexta-feira (6) no Cais Mauá. Um dos mais de 250 palestrantes confirmados, Thomaz Srougi é fundador e presidente do conselho da dr.consulta, healthtech que, mesmo sem abrir seu valuation, figura em listas de unicórnios brasileiros (startup que atinge uma avaliação de mercado de pelo menos US$ 1 bilhão).
Com o primeiro centro médico aberto em 2011 na favela de Heliópolis, a empresa tem hoje 32 unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para falar da origem da healthtech, Thomaz pontua as mazelas do Sistema Único de Saúde (SUS):
— O modelo da saúde pública no Brasil, na prancheta, faz sentido porque todos querem receber saúde de graça. Mas não existe dinheiro suficiente para a saúde de todos os brasileiros. Então, muita gente sofre porque não consegue atendimento, muita gente morre esperando. Ou se endividam para ter atendimento particular.
O que a dr.consulta pretende é democratizar a saúde com um bom padrão de qualidade. E para conseguir baixar o preço das consultas, abusou da tecnologia e do uso de dados.
Primeiro, tornou virtuais todas as tarefas e processos, do agendamento ao pagamento da consulta. O processo de abertura de agenda médica é todo agenciado por inteligência artificial.
Outra cartada foi transformar em dados as informações pessoais e diagnósticos dos mais de 2,5 milhões de pacientes. A healthtech trabalha modelos estatísticos para evitar exames desnecessários e usa uma espécie de prontuário inteligente para indicar ao médico a melhor decisão, com base em algoritmos clínicos.
Durante a consulta, o médico não usa mais um calhamaço de papel, já vai colocando as informações que obtém em um sistema dinâmico. Esse sistema vai conduzindo o profissional por meio de perguntas para o paciente, e as questões seguintes vão mudando de acordo com as respostas que recebe.
— Ao final, ele (o sistema) diz: as probabilidades de diagnóstico são essas, em média, são esses os exames pedidos, aqui estão as prescrições das atividades. O médico tem autonomia para decidir, mas, em 97% das consultas, é seguido — acrescenta Thomaz.
No caso dos pacientes que contrataram o plano de saúde da empresa, lançado em dezembro, esse banco de dados também vai servir para a promoção de um cuidado a longo prazo. A ideia é que, em vez de apenas reagir à demanda, a empresa possa identificar os pacientes que têm mais risco de ficar doentes no futuro e se aproximar deles para evitar isso. Passa por sugerir, por exemplo, grupos de nutrição, atendimento em saúde mental e atendimento de especialistas.
— Todos os indivíduos deixam uma trilha de dados psicossociais, socioeconômicos, médicos e financeiros, e nós os processamos em prol do paciente. Dado um perfil clínico, idade, sexo, condição social e econômica, dá para prever o que pode acontecer com ele em cinco, 10, 15 anos, e já é possível ter postura mais proativa — sintetiza.
Desde que o governo autorizou a telemedicina, no começo da pandemia, a dr.consulta também já realizou mais de 400 mil atendimentos nessa modalidade. Ela veio para ficar, na avaliação de Thomaz:
— Por si só, a telemedicina não resolve o problema, pois muitas vezes é necessário o toque, que um médico olhe a pessoa. Mas é muito importante para atender pacientes que não conseguem se locomover ou não querem perder tempo, ou querem fazer consulta com médicos em outros lugares, cria novas possibilidades.
A palestra do fundador da dr.consulta no South Summit Brasil está marcada para quarta–feira, às 12h10min.