A tradição de ir até o Parque Moinhos de Vento, o Parcão, para alimentar os patos está com os dias contados: eles serão retirados até o final do mês e encaminhados a açudes da Ulbra, em Canoas. Mas a prática nunca foi aconselhada por especialistas.
A médica-veterinária Juliana Herpich, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smamus), destaca que os animais do lago do Parcão e de outros parques públicos de Porto Alegre já recebem ração, além da alimentação natural que encontram nesses habitats, como pequenos peixes, microalgas e microprotozoários.
Ela afirma que alimentos levados de casa pelos frequentadores do parque podem ser prejudiciais à saúde dos animais. E isso inclui os aparentemente inofensivos pedaços de pão:
— Os animais já são alimentados com o aporte nutricional adequado. Muitas vezes, o alimento atirado pelo humano é muito calórico, e o excesso calórico pode ocasionar doenças.
Como uma possível consequência de dieta hipercalórica, ela cita uma deformidade chamada de asa de anjo, que afetam aves jovens. Isso ocorre quando as penas das asas passam a apontar para fora, em vez de repousar contra o corpo, e algumas aves perdem a habilidade de voar. Há, no Parcão, aves com asa de anjo.
A chefe da Equipe de Fauna Silvestre, Soraya Ribeiro, acrescenta que, como o animal vai ao encontro de quem dá comida, os frequentadores podem fazer uma leitura errada das necessidades dele.
— As pessoas acham que eles estão com fome porque vão pegar, mas, na verdade, eles fazem isso por causa da natureza deles — ressalta.
Embora não seja recomendada, a alimentação dos animais por frequentadores não é a razão da retirada das aves no lago do Parcão. O parque não é considerado adequado para eles pela prefeitura: no local, que não é cercado, os bichos correm o risco de serem atacados por cachorros, ou mesmo capturados por pessoas.
A retirada dos 26 patos, um marreco e um ganso antecipa ainda as obras de revitalização do lago, previstas para o segundo semestre. A 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre determinou, de forma liminar, que sejam realizadas ações de recuperação do lago e proteção dos animais, com base em uma ação civil pública da ONG União Pela Vida.