Sem sucesso no combate ao furto de luminárias e fios elétricos – problema que nos últimos meses deixou às escuras uma série de parques em Porto Alegre –, o prefeito Sebastião Melo trouxe à baila a velha cartada do cercamento.
Em artigo publicado na semana passada em Zero Hora, Melo garante que "nenhuma posição será tomada sem intenso diálogo", mas convoca a sociedade a "refletir objetivamente" sobre a possibilidade de gradear algumas áreas verdes. O mérito maior do texto é justamente o debate.
Ao abrir a discussão, o prefeito também se mostra disposto a receber ideias divergentes, inéditas, pouco exploradas – ou seja, alternativas ao cercamento que até hoje nunca foram adotadas pela prefeitura para barrar os furtos, o vandalismo e a violência urbana. Quero aqui mencionar algumas, mas, antes, é importante entender por que elas são necessárias.
Em primeiro lugar, não há problema algum em cercar determinados espaços, desde que o perfil, as características, o estilo desse espaço combinem com o cercamento. É o caso do Parque Germânia – que já foi concebido para ser gradeado –, mas não é o caso da Redenção, por exemplo.
O urbanista Anthony Ling sempre diz que, quando se ergue uma barreira ao redor de um parque, cria-se uma "zona morta" em volta dele. Quer dizer: as pessoas evitam caminhar perto da cerca, porque aquele trecho se torna antipático, monótono, sem atrativos. E não dá para esquecer que espaços públicos desertos, mais do que entediantes, são um prato cheio para a criminalidade.
No caso específico da Redenção, a área mais vibrante do parque é justamente o contorno – onde estão os botecos, as floriculturas, o brique e a calçada da Osvaldo. Ou seja, se por um lado o cercamento ajudaria a preservar o patrimônio do lado de dentro, por outro destruiria o que pulsa do lado de fora: o movimento e a interação social na margem do parque. A violência, infelizmente, não acabaria, só migraria do interior para a periferia da Redenção.
Uma medida relativamente simples, que precisa ser considerada antes do gradeamento, é a instalação de um posto da Guarda Municipal no meio, no centro, no miolo da área verde. Isso faria com que os guardas transitassem no local o tempo todo, inclusive à noite, e estivessem mais perto dos crimes flagrados pelas câmeras de segurança. É assim que funciona na orla do Guaíba, onde o vandalismo e o furto de fiação, não por acaso, nunca foram um problema grave.
Aliás, não é por acaso também que a população, ao longo da Orla, se sente tão à vontade para circular depois que o sol se põe. Porque, além do patrulhamento, existem atrativos, como bares e restaurantes, que levam movimento noturno à região – em qualquer lugar do mundo, concentração de pessoas inibe a criminalidade. Por isso é tão positiva a inauguração de um centro gastronômico no lugar do antigo orquidário, na Redenção, iniciativa que pode ser reprisada em outros parques.
Há uma série de alternativas ao cercamento. Em cidades como Gotemburgo, na Suécia, para evitar que os parques fiquem vazios à noite, duas ou três famílias moram em residências construídas dentro dessas áreas. Não digo que deveríamos fazer o mesmo aqui, mas existem ideias eficientes e menos agressivas que precisam ser consideradas antes de segregar um espaço público.