"Nesta vida e além". Em inglês, essa é a frase estampada na logomarca da Hamburgueria Well, de Viamão, na Região Metropolitana. O empreendimento foi sonhado e elaborado por Wellingthon Cirne Cardoso. No entanto, o rapaz não conseguiu tirar o projeto do papel. Isso porque, em 2020, aos 19 anos, ele foi assassinado por pessoas que invadiram a casa de uma amiga. Estava no lugar errado e na hora errada, lamenta a família.
Assim, buscando honrar a memória do filho e diminuir a dor do luto, Vanessa Cirne, 39 anos, resolveu pôr em prática o desejo do jovem, mesmo que ele não esteja mais fisicamente neste mundo.
Um caderno com quatro receitas e alguns detalhes foi o que Welingthon deixou. Além disso, havia os desejos que ele comentava com as pessoas mais próximas.
— Quando falávamos sobre projeto de vida, ele me disse: "Mãe, quero ter uma hamburgueria sobre rodas, que me leve onde eu quiser, pois eu sou do mundo" — conta Vanessa.
Em janeiro deste ano, em um trailer, ao lado da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes — espaço cedido pela prefeitura de Viamão —, no bairro Itapuã, foi inaugurada a Hamburgueria Well. Por lá, além da mãe, trabalham o padrasto e a irmã de Wellingthon.
Apesar de querer expandir a marca e ir para inúmeros lugares — como seu filho queria —, até o momento, Vanessa optou por manter apenas as quatro receitas e garantir que somente a família trabalhe no empreendimento.
Cor de rosa
Segundo Vanessa, durante a adolescência, Wellingthon tinha o desejo de pintar seu cabelo de rosa, e fez isso. No dia seguinte à sua morte, o jovem teria uma entrevista de emprego. Pensando que os entrevistados não iriam simpatizar muito com o penteado, sua mãe e ele resolveram pintar o cabelo de preto novamente. Mas o rosa já era marca registrada.
Com isso, Vanessa pensou em fazer um hambúrguer com o pão cor de rosa, em homenagem ao filho. A marca registrada do menino virou, também, marca registrada do seu empreendimento dos sonhos.
— É incrível, principalmente, quando chega alguém pedindo o hambúrguer rosa. Nós, que trabalhamos ali, nos olhamos e sabemos exatamente o que cada um pensa: é como se o Wellingthon estivesse ali conosco — diz, emocionada, Vanessa.
Ela conta que se comove e sente saudades do filho sempre que abre o trailer. De acordo com ela, os amigos dele costumam visitar o local com frequência:
— Cada olhar dos amigos dele e cada abraço que me dão é como se eu estivesse sentindo meu filho ali. Essa sensação é indescritível, muito gratificante e reconfortante.
Transformando a dor em incentivo
Vanessa trabalhou em um restaurante da cidade por mais de oito anos. Inclusive, ela fazia alguns pratos para seu filho experimentar e ser uma espécie de crítico culinário.
Portanto, a experiência da mãe contribuiu para o sonho de Wellinghton se tornar real. A ideia de tirar do papel veio dias depois da morte do jovem, quando a família estava juntando os pertences dele em seu quarto. De acordo com Vanessa, a partir dali, ela prometeu que daria tudo de si para a criação e o crescimento da hamburgueria:
— Além de honrar a memória do Wellingthon, nossa ideia é servir como incentivo às outras famílias que passem por situação parecida com a nossa. É extremamente dolorido, mas é possível seguir em frente.
Produção: Leonardo Bender