Seguindo a tendência dos grafites em Porto Alegre, a empena de um prédio na Avenida Loureiro da Silva, no bairro Cidade Baixa, recebeu uma pintura que mostra a figura de uma mulher. O trabalho foi feito pela artista Pati Rigon, que também é responsável por outros murais na cidade.
Usando cores vibrantes e medindo 36 metros de altura por 11 de largura, a arte é vista por quem passa na avenida perimetral ou por quem sai da José do Patrocínio.
— O impacto de repercussão para o prédio tem sido enorme. Diariamente, as pessoas que passam por aqui fazem fotos e colocam em suas redes sociais, tornando o prédio um ponto de referência na região — disse Gibran Oliveira, CEO da My Way, administradora do coliving Century Park Living, que funciona dentro da estrutura.
Antes da pintura na empena lateral, foram realizadas ações de grafite na entrada principal e nos pilares da fachada com o artista Jotape Pax, além de um painel interno localizado no rooftop com o artista Bruno Schilling. Estas primeiras ações abriram as portas para as tratativas com os produtores da lateral que foi pintada pela artista Pati Rigon.
O grafite faz parte de uma campanha do aplicativo de transporte 99 para o mês da mulher, e foi organizado pela Instagrafite, uma empresa de São Paulo. Em seis cidades brasileiras — Campinas (SP), Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo —, seis artistas mulheres pintaram motoristas do sexo feminino para incentivar uma maior presença das trabalhadoras da área. A escolhida de Porto Alegre é Denise Junges, 52 anos, moradora do Centro Histórico. Ela trabalha como motorista há quatro anos. A ideia do projeto era de fazer a pintura próximo da residência da homenageada.
— Toda minha criação foi elaborada partindo dela. Partindo da vida da Denise e de conversas que tivemos. Ela tem formação em ressonância magnética e passou boa parte da vida trabalhando nessa área. Faltando oito meses para se aposentar, foi demitida e virou motorista do aplicativo. Hoje, quando perguntada se gostaria de voltar a trabalhar na área da saúde, ela responde que "um passarinho quando sai da gaiola, nunca mais quer voltar", se referindo à autonomia e flexibilidade de horários — diz a artista Pati Rigon. — Essa frase me chamou muito atenção e por isso fiz ela representada entre vários pássaros — completa.
Quem é a artista
Pati Rigon é natural de Cachoeira do Sul, formada em Design pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Politécnica de Turim, na Itália. Trabalha com pinturas a óleo, ilustrações, grafites, performances, tatuagens e também é modelo e militante transintersexo.
De um tempo para cá, a artista tem sido convidada para participar de festivais de arte urbana, pintando enormes grafites que entram no seu portfólio. Em agosto do ano passado, Pati fez pinturas internas em todo o hotel Swan Generation, na Rua 24 de Outubro. Em novembro, participou do festival Arte Salva, onde grafitou a lateral de um prédio na Avenida Borges de Medeiros.

Sua arte se destacou tanto que ela foi parar no Rio de Janeiro. Em dezembro do ano passado, a artista participou do festival Rua Walls, onde outro prédio foi pintado.
— Foi uma experiência incrível. Em fevereiro, também fui para a Amazônia participar do festival Street Rivers, fazendo pinturas em casinhas de palafita dentro da floresta e com a colaboração dos moradores ribeirinhos. Além das pinturas, que também colaboram com a impermeabilização das madeiras das casas, também levamos energia fotovoltaica para a escola local e filtros para água potável — conta, entusiasmada.
Após voltar da Amazônia, Pati recebeu o convite para fazer o grafite no prédio da Loureiro da Silva. Esse pode ter sido o último trabalho da artista na capital gaúcha, já que ela está se mudando para São Paulo.
— Estou prestes a me mudar, então pensei que Porto Alegre merecia um presentinho de despedida — diz.
Mais grafites para a cidade
O produtor e idealizador do festival Arte Salva, Vinícius Amorim, quer que Porto Alegre se torne uma grande galeria a céu aberto. Ele diz que os recentes grafites fazem parte de um movimento que está apenas começando na Capital, com potencial de se expandir com rapidez.
— O Arte Salva nasceu através do sonho de levar mais arte para espaços que estavam subutilizados na nossa opinião e trazer arte para o dia a dia das pessoal. Democratizar o acesso das artes visuais na Capital. Queremos colocar Porto Alegre no mapa do muralismo, desse fenômeno dos muralismos que acontece nas grandes cidades do mundo — afirma Vinicius.
Segundo o organizador, o festival vai seguir ocorrendo de forma virtual, com novos artistas trabalhando nas pinturas:
— Sabemos que é importante dar o pontapé nesse movimento de muralismo em grandes formatos na capital gaúcha, mas a gente sabe que além disso é importante dar seguimento a um projeto grandioso como esse. Para 2022, o festival Arte Salva vai ter sua terceira edição colorindo e pintando novos murais em Porto Alegre.
Produção: Guilherme Gonçalves