Em 2002, pouco depois de ser incorporado ao complexo da Santa Casa de Misericórdia, no Centro Histórico, o antigo prédio do Hospital da Criança Santo Antônio encerrava suas atividades. Outrora um local de referência no tratamento pediátrico, o espaço que ocupa o quarteirão de 7 mil metros quadrados, no bairro São Geraldo, está em desuso há 20 anos.
Para tentar dar um fim à visão desolada que o local oferece há duas décadas, um projeto para revitalização do espaço foi apresentado ao conselho-geral do Plano Diretor de 2020. Seguindo as tendências de revitalização do 4º Distrito, a propostas foram aprovadas e a restauração vai abranger todo o quarteirão, formado pelas avenidas Ceará, Maranhão, Paraná e a rua Ernesto da Fontoura. As obras vão ser divididas em duas etapas, mas ainda não há uma data para o início dos trabalhos.
A primeira parte do projeto vai consistir em reestruturar os antigos prédios onde ficava o hospital pediátrico e a antiga capela lateral, onde áreas residenciais e comerciais vão ser implementadas. A segunda etapa será construir um prédio novo na parte de trás da construção principal, que também deve contar com áreas mistas.
De acordo com Guilherme Correa, sócio-administrador da empresa R. Correa Engenharia, que é proprietária do imóvel, essas duas etapas vão ocorrer ao mesmo tempo. Segundo ele, o Estudo de Viabilidade Urbanística já foi aprovado, faltando os licenciamentos. A expectativa é de que os trabalhos comecem no final deste ano.
— Serão praticamente duas obras distintas, já que a revitalização dos prédios antigos é um tipo de obra bem minuciosa, diferente da construção de um prédio novo — explica.
A possibilidade de instalação de espaço para comércio estava sendo revisada em 2019 pelo fato de o mercado estar pouco movimentado, na época. Contudo, devido às novas propostas para o 4º Distrito, o projeto foi retomado. Tanto a área revitalizada quanto o novo espaço vão poder ser acessados pelas quatro ruas que delimitam o quarteirão.
Correa também destaca que a pandemia acarretou em mudanças no projeto apresentado em 2019, sendo que a principal delas é a projeção de apartamentos maiores. Como as famílias acabaram passando mais tempo em casa e o home office se tornou o “novo normal”, as unidades habitacionais menores foram repensadas.
— A mudança de costumes que a pandemia trouxe nos levou a fazer novos estudos para se adequar a um projeto mais atual. Nós trabalhamos em um aumento no tamanho das unidades e peças que, inicialmente, eram bem pequenas, pois estávamos pensando no comprador pré-pandemia, que passava o dia no trabalho e pouco tempo em casa — destaca.
Patrimônio inventariado
A área foi adquirida pela empresa em 2013 e desde então diversas propostas foram apresentadas para a utilização do local – antes, o dono do espaço era o Centro Clínico Gaúcho. Pelo fato de haver construções que são inventariadas no quarteirão, não é possível que elas sejam demolidas, mas algumas intervenções são permitidas. Guilherme Correa explica que todos já tinham consciência dessas questões desde antes da aquisição.
— Vários aspectos que nos agradaram e nos levaram a adquirir o terreno, como o fato de ser um quarteirão inteiro, os próprios imóveis inventariados, que são muito interessantes, a localização dentro da cidade, a possibilidade de fazer um projeto multiuso, grandes áreas públicas de convivência... É um terreno que abre grandes possibilidades pra fazer um projeto diferenciado e marcante dentro da cidade — afirma.
O arquiteto e urbanista Evandro Eifler Júnior, que participou do projeto de revitalização, ressalta que, no caso de construções inventariadas, as alterações estão autorizadas apenas para melhorar as funcionalidades práticas.
— Essas são edificações que, por seus valores, atribuem identidade ao espaço, constituindo elementos da paisagem local. As intervenções que se propõem são voltadas ao atendimento de acessibilidade, prevenção de incêndios e adaptação e adequação aos novos usos. Assim, são projetadas instalações elevatórias, novas escadas, sanitários e instalações elétricas — explica.
Dessa forma, de acordo com o arquiteto, uma das propostas é que a antiga capela do local tenha um destino comercial, com a implantação de um café ou bistrô, por exemplo. Assim, a estrutura permanece inalterada, mas suas funcionalidades são melhoradas para o maior aproveitamento do público.
O que aconteceu com o lugar?
O antigo Hospital da Criança Santo Antônio deixou de ser utilizado pelo fato de a ala pediátrica ter sido incorporada ao Complexo da Santa Casa de Porto Alegre, no Centro Histórico – sendo inaugurada em 13 de junho de 2002 pelo então governador Olívio Dutra.
Em 2005, o imóvel antigo foi vendido para o Centro Clínico Gaúcho, que tinha planos para a instalação de centros cirúrgico e obstétrico, unidade neonatal, além de uma área de pronto atendimento. No entanto, a instituição não é mais a proprietária do local desde 2013, quando foi adquirida pela R. Correa Engenharia.
Entre 24 de setembro e 7 de novembro de 2021, a 29ª mostra de arquitetura e design de interiores Casacor ocorreu no prédio principal do antigo hospital.
Produção: Gabriel Mattos