É buscando diminuir a lista de espera por transplantes que a ONG Via Vida, de Porto Alegre, tem atuado desde 2000 e, recentemente, conquistou um espaço onde poderá ampliar seu trabalho. No último dia 11, uma cerimônia marcou a entrega das chaves de um imóvel da prefeitura à entidade. No local, será possível expandir a iniciativa da pousada Solidariedade — uma casa de hospedagem gratuita que recebe pessoas de baixa renda de todo o país, em situação de pré e pós-transplante, e acompanhantes.
Das áreas de trabalho da Via Vida, é no braço assistencial que o novo espaço irá impactar. Atualmente, a ONG tem a pousada em uma casa alugada na Rua São Mateus, no bairro Jardim do Salso. O local cedido, por tempo indeterminado, pela prefeitura fica na Avenida Taquara, no bairro Petrópolis. Como relata a presidente da Via Vida, Lucia Elbern, a mobilização se deu a partir da primeira-dama Valéria Leopoldino, que conheceu a ONG e buscou uma forma de ajudar.
— Nós vamos poder receber mais pessoas e não vai ser necessário pagar aluguel, então isso já dá uma ajuda bem significativa — explica Lucia.
Reformas
No espaço utilizado hoje, segundo ela, é possível receber até 20 pessoas, mas por conta da pandemia a ocupação teve de ser reduzida.
Para começar a usar o imóvel cedido pela prefeitura, são necessárias reformas. Uma empresa está encarregada de fazer o projeto inicial. Na sequência, a ONG partirá em busca de parceiros para custear a obra. Como descreve Lucia, a colocação de divisórias para os quartos é uma das mudanças a serem feitas. A expectativa da presidente da entidade é de que a pousada no novo endereço esteja pronta até o final de 2022.
Do interior da Paraíba
Vindos de São José da Lagoa Tapada, município do interior da Paraíba, Simone dos Santos Ramos e seu filho, Gustavo Ramos Batista, 13 anos, conhecem a pousada desde 2016. Na ocasião, o menino foi a uma consulta em Porto Alegre e, devido à gravidade do seu quadro clínico, ficou internado. Ainda naquele ano, Gustavo recebeu um transplante de rins e, desde então, junto à mãe, ele volta à capital gaúcha de meses em meses para exames de revisão. Na maior parte das vezes, os dois se hospedam na pousada Solidariedade.
— Tem gente de vários lugares, então um vai se apoiando no outro, porque, como a gente está em casa de apoio, vem tudo na mesma situação e vai tendo aquele laço de família — percebe Simone.
Gustavo conta que o que mais gosta de fazer no local é jogar futebol: seja no videogame, seja com a bola no pátio.
Assim como estadia e alimentação, na pousada, a ONG oferece gratuitamente oficinas e apoio pedagógico e psicológico. Os hóspedes são indicados por assistentes sociais de hospitais transplantadores da Capital, que fazem uma análise socioeconômica das pessoas na lista de transplante, em revisão ou no pós-operatório. Aquelas que não têm condições financeiras de se manter em Porto Alegre são encaminhadas à casa de hospedagem.
Incentivo à doação
Quando um de seus filhos entrou na fila de espera para transplante, em 1999, Lucia percebeu o quão complicado era estar nessa lista e decidiu se mobilizar. Junto a familiares e outras famílias, passou a divulgar materiais sobre o tema em locais como sinaleiras e shoppings.
Hoje, a ONG segue com o trabalho educacional e também realiza distribuição de cestas básicas mensalmente a famílias de baixa renda de Porto Alegre que tenham pessoas com transplante. De 25 a 30 famílias são atendidas. Além do aspecto assistencial, Lucia resume o propósito da Via Vida em dois enfoques:
— Para que mais pessoas se coloquem positivamente frente à doação de órgãos e mais pessoas cuidem dos seus diversos órgãos.
A entidade é mantida por doações e a maior parte do trabalho é feita por voluntários. Para colaborar, é possível entrar em contato pelo telefone (51) 3333-4519, pelas redes sociais ou pelo site viavida.org.br. Entre os dias 6 e 10 de dezembro, das 10h às 18h, a equipe também estará fazendo um brechó na Avenida Ipiranga, nº 40, no bairro Praia de Belas, para arrecadar fundos.
Como funciona a lista de espera?
- Segundo dados da Secretaria da Saúde, 2.370 pessoas aguardavam por transplante de algum órgão ou tecido no Rio Grande do Sul em outubro
- Coordenador da Central Estadual de Transplantes, o médico Rafael Rosa explica que a fila de espera é dinâmica: para cada doação que surge, é gerada uma lista de receptores com base em critérios como tipagem sanguínea, tamanho do órgão, compatibilidade, tempo de espera e gravidade do caso
- No caso de órgãos, a doação é possível quando há morte cerebral, em que a pessoa falece, mas seus órgãos são mantidos por aparelhos, esclarece o especialista
- Para ser doador, não é preciso deixar nada por escrito; basta ter uma conversa com a família
Produção: Isadora Garcia