João Roberto não aparenta seus 42 anos. Com check-up em dia, exibe-se de frente, da a volta no quarteirão e para ao lado do Parque Germânia. No desfile, arranca olhares dos moradores do bairro Jardim Europa, zona norte da Capital. As 7h, já deixa escapar tossidas e um ronco grave. Fica evidente seu maior defeito: beber demais. João Roberto é um Opala 1979 seis cilindros.
— Quando eu ouvi pela primeira vez a música do Legião Urbana, aquela “João Roberto era o maioral”, eu tinha 10 anos. Na hora decidi que ia ter um Opala e colocaria esse nome — afirma o técnico em automação industrial Douglas Santos, 36 anos.
A dupla Douglas e João Roberto integra o grupo Opaleiros de Porto Alegre, que reúne amantes do carro da Chevrolet. O modelo foi apresentado ao público pela primeira vez em 19 de novembro de 1968 - por isso, nessa sexta-feira (19), é celebrado O Dia do Opala.
Para marcar a data, os antigomobilistas levaram cinco de suas relíquias ao estacionamento do parque. Prometem, ainda, reunir mais de 50 automóveis às 19h desta sexta no Boulevard Assis Brasil (Avenida Assis Brasil, 4320), e outros tantos mais na manhã de sábado (20), às 9h, na Rua Remi Machado, ao lado da revenda Chevrolet Jardine. A via será liberada apenas para Opalas e Caravans, a versão "station wagon" do veículo. A ação foi comunicada à Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e à Brigada Militar.
As histórias compartilhadas pelos amigos vão desde as vezes em que ficaram empenhados por alguma pane mecânica às já conhecidas reclamações pelo consumo elevado de combustível - não seria por menos, o Opala ganhou motor potente, de quatro ou seis cilindros, e uma autonomia média que dificilmente ultrapassa os cinco quilômetros por litro, garantem os proprietários. O preço da gasolina, ou do álcool, dependendo do modelo, compensa, defende o investidor Leonardo Farina, 32 anos, dono de um Diplomata 1992, último ano de fabricação do carro.
— Esse tá comigo há onze anos, se hoje eu quiser vender tem que passar pelo aval de toda a família — afirma.
Eduardo Kommers, 38 anos, tem um esportivo Coupe monocromático, 1979, com interior de bancos marrons. Por sobre a placa, quando está exposto, ele pendura a antiga tarja original, amarela de duas letras e quatro dígitos, como saiu da concessionária há quatro décadas.
— Revitalizar um carro é como um quebra-cabeça. Busca as peças, pesquisa, vai ajeitando. E nos encontros vem donos de outros modelos, são antigomobilistas como nós, vira uma grande confraternização — diz.
Para marcar os 50 anos de vida, em 2022, o advogado Hamilton Gonçalves Silveira comprou um Opala nascido na mesma época que ele. Enquanto é reformado, passeia com uma Caravan verde e um Diplomata azul.
— Veio de família, sempre gostei de olhar os Opalas e decidi manter. Agora tem esse que vai comemorar aniversário comigo — aguarda, ansioso.
Rodrigo Lobo, 47 anos, é provavelmente o mais preparado de todos os donos de Opala. Ele é mecânico.
— A gente diz que tem que ter ainda amizade com um guincheiro — brinca, ao lado de um Comodoro 1985 a álcool.
Já o João Roberto, não vai trocar de dono, segundo a futura herdeira, Manoela Chassot, 16 anos. A estudante diz que o pai já recebeu até proposta de troca por um Porsche, mas recusou negociá-lo, o que representaria uma expressiva valorização, já que foi comprado por R$ 10 mil, parcelados diretamente com o vendedor. Além do dinheiro gasto nos reparos, tem outro valor inestimável.
— Seria como perder alguém da família — compara a adolescente.
Os Opaleiros de Porto Alegre podem ser encontrados no Facebook e no Instagram @opaleirosdeportoalegre