Os veículos são pequenos, mas as conquistas são crescentes. Com cerca de 450 dias de operação em Porto Alegre, o Grilo — espécie de triciclo coberto e sustentável, com capacidade para um motorista e dois passageiros — aumentou sua área de cobertura, já deu milhares de "pulos" (como são chamados os deslocamentos) e diversificou as possibilidades de geração de receita. Além do transporte de pessoas e produtos, o empreendimento está operando com serviços de valor agregado (ofertando guarda-chuva, auxílio locomoção para idosos e sacolas de bagagem) e plataforma de mídia.
Carlos Novaes, cofundador e diretor executivo, prefere não revelar números exatos, mas oferece dados que demonstram o potencial da iniciativa.
— Ainda não atingimos o equilíbrio, mas estamos numa crescente na geração de receita. Nosso número de deslocamentos está nos cinco dígitos nesses 15 meses. Entre os 300 (em maio) e os 450 dias de funcionamento, dobramos o número de viagens feitas antes disso. Também cresceu em 50% a quantidade de usuários que baixaram o aplicativo nesse período — avalia Novaes.
Com capacidade máxima atual para colocar 16 veículos elétricos na rua, ele reforça ainda a proposta de ser uma alternativa sustentável.
— Temos o equivalente a mais de 800 árvores plantadas com a redução nas emissões de CO2. Queremos democratizar a mobilidade sustentável — ressalta.
Para operar os Grilos, os motoristas são selecionados e treinados. Os que aceitam atuar ainda como promotores de venda para produtos de marcas parceiras — escolhidas sob critérios como preocupação com sustentabilidade, de acordo com Novaes — têm um incremento na renda. É o caso de Guilherme Lopes, 28 anos, condutor há oito meses. Durante a pandemia, ele perdeu o emprego como gerente de uma cafeteria e viu no Grilo uma alternativa — em que ainda tem a possibilidade de aplicar alguns conhecimentos de marketing e vendas adquiridos em outras ocasiões.
— Acreditei na ideia por ser elétrico, possibilitar que rodemos a cidade sem poluir. Além disso, a empresa fornece o veiculo. Poder transportar as pessoas e ainda ganhar um comissão com vendas faz a diferença. Dá um "ergue" — diz Lopes, por fone, enquanto carrega o Grilo.
Sobre a perspectiva de ampliação dos serviços, Novaes afirma que está nos planos, ainda que não para este ano. Porém, ele adianta possibilidades.
— Em 2021, com a pandemia e a questão global de suprimentos, não devemos expandir. O Grilo precisa estar em regiões de alta densidade demográfica. Então, é possível que tenhamos uma alongada para a Zona Norte e uma puxada para a Zona Sul em 2022.
Área de atuação alcança 10 bairros
Atualmente, a área de cobertura da plataforma inclui 12 quilômetros quadrados em 10 bairros: Auxiliadora, Moinhos de Vento, Mont'Serrat, Rio Branco, Bom Fim, Floresta, Centro Histórico, Cidade Baixa, Independência e Farroupilha.
Outra questão que tem deixado Novaes "grilado" diz respeito à regulamentação da operação. Ele explica que precisa entender melhor a questão:
— Para nós, estamos regularizados conforme a lei federal de transporte por aplicativos. Inclusive, levamos multa.
O secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre, Luiz Fernando Záchia, concorda que o empreendimento se enquadra na regulamentação dos transportes por aplicativo. Porém, avalia que há outros procedimentos legais com o município que precisam ser ajustados.
— A empresa precisa estar devidamente cadastrada na EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação). Inclusive, já foram convidados a comparecer. Burocraticamente, faltam documentos que precisam ser apresentados para que possam estar funcionando devidamente — afirma Záchia.