Passageiros do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, tiveram uma má e uma boa notícia na manhã cheia de neblina desta segunda-feira (5).
A má é que ao longo deste ano e ao menos até meados do próximo, a capital gaúcha poderá ter problemas em razão do desligamento do ILS Cat II (Sistemas de Pouso por Instrumento categoria 2), aparelho que orienta operações de aeronaves em baixa visibilidade, em razão das obras de ampliação da pista do aeroporto. A boa é que deve se encerrar na próxima semana o último entrave para finalizar a obra, a remoção de famílias da Vila Nazaré.
Conforme nota da Fraport, empresa que administra o Salgado Filho desde 2018, 12 voos foram diretamente afetados no período desta segunda-feira em que a visibilidade da pista esteve abaixo dos parâmetros mínimos para pousos e decolagens. A operação foi suspensa entre as 4h02min e as 10h11min, fazendo com que fossem cancelados cinco decolagens e cinco pousos. Outros dois pousos foram direcionados a outros aeroportos.
As cenas de tumulto por atrasos e cancelamentos em razão da neblina lembraram o período anterior à Copa do Mundo de 2014, quando Porto Alegre não possuía o sistema que deu aos pilotos e aeronaves com destino à Capital um ganho de 400 metros de visibilidade em relação ao sistema anterior. Conforme a Fraport, o ILS Cat II está desligado desde o final de 2019.
O ILS funciona emitindo sinais de duas antenas, uma delas orienta o piloto verticalmente e outra horizontalmente, até que ele consiga colocar a aeronave em direção à pista. Com o ILS Cat 2, são necessários pelo menos 400 metros de visibilidade. Para usar o sistema, é preciso que aeronaves possam captar o sinal, e pilotos recebam treinamento para utilizá-lo, o que ocorreu na maior parte da aviação comercial brasileira nos últimos anos.
O que impede ILS Cat II de funcionar nas atuais condições é uma defasagem no localizador lateral. Como o equipamento precisa estar posicionado no final da pista e ela não está concluída, há uma imprecisão de 1,8 grau na atual posição que compromete o uso do aparelho. Sem o sistema, Porto Alegre opera hoje com o ILS Cat I, que exige maior campo de visibilidade ao piloto para permitir pousos e decolagens.
Conforme Lucas Fogaça, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, o não funcionamento do ILS é comunicado periodicamente por meio de Notam, sigla para “aviso aos navegantes”. Trata-se de uma publicação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo em código que alerta os pilotos sobre as condições dos aeroportos. No caso do Salgado Filho, o desligamento do ILS foi comunicado em 3 de novembro de 2019 e em todos os período em que isso se repetiu. O último aviso é relativo ao período entre 18 de maio e 15 de agosto. É provável que, em razão do baixo movimento na pandemia, o desligamento tenha passado despercebido da população em 2020.
As obras de ampliação da pista estão interrompidas desde abril e serão retomadas assim que a prefeitura concluir a remoção das famílias da Vila Nazaré. Com a interrupção, é possível que não seja cumprido o prazo de conclusão da pista até agosto de 2022, o que pode acrescentar mais um inverno de problemas com pousos e decolagens na rotina dos passageiros gaúchos.
Conforme a Secretaria Municipal da Habitação, restam apenas nove pessoas na Vila Nazaré, divididas em duas famílias. Nesta segunda-feira, eles estiveram na prefeitura negociando a remoção para imóveis do condomínio Irmãos Maristas, no bairro Rubem Berta, construído para abrigar a população da Nazaré.
— Se tudo correr bem, até o final da semana que vem nós concluímos as remoções, entregamos em definitivo a área para a Fraport e a obra poderá ser retomada — declara o secretário de Habitação, André Machado.