Letícia Arrojo da Silva, 35 anos, já esperava que a filha nascesse nesta quarta-feira (2), mas não imaginava que o parto ocorreria no carro da família. Mais precisamente no banco de trás do veículo.
Já em fim da gestação, ela passou a noite no Hospital da Santa Casa, em Porto Alegre, mas deixou a instituição por ainda não estar pronta para dar à luz. Com o alarme falso, decidiu voltar para casa, na Zona Sul.
No meio do caminho, contudo, as contrações aumentaram, e o automóvel foi estacionado em frente à Unidade de Saúde Tristeza. Às 8h15min, a pequena Maria Júlia nasceu.
— Eu não imaginava começar o dia assim. Agora, sim, é um bom dia — definiu a enfermeira Edinara Peglow, que realizou o parto.
A profissional conta nunca ter passado por situação semelhante. Ela se paramentava para começar a rotina de trabalho no posto de saúde e ainda usava calça de moletom e blusão na hora do parto. Teve tempo apenas de vestir luvas e uma máscara cirúrgica, além de chamar o apoio da técnica em enfermagem Marilde Bueno.
— É muito gratificante uma vida vir nas nossas mãos. Aqui somos assim, equipe sempre unida — disse Marilde.
As equipes foram alertadas pelo porteiro Paulo Roberto Padilha Júnior. Enquanto as enfermeiras acalmavam os futuros pais, ele correu para reunir os materiais necessários e transformar o carro em uma sala de parto improvisada.
— Foi uma adrenalina — comenta o segurança, primeiro do local a ter contato com a gestante.
A microempresária Etiane Parpinelli viu a chegada apressada do veículo. Foi ela quem ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
— O motorista desceu gritando: "Chama alguém, chama alguém". Eu não entendi, mas daí desceu a esposa dele dizendo "Vai nascer". E então eu liguei pro Samu — contou.
Na fila para vacinação contra a covid, em frente ao prédio, estava a médica anestesista Waleska Schneider Vieira, que acompanhava a mãe em busca da segunda dose do imunizante. Ela identificou que a criança estava em parada cardíaca e ajudou a reanimá-la.
Logo que nasceu, Maria Júlia foi envolta em uma manta térmica e colocada na ambulância do Samu. Duas viaturas foram destacadas para atender mãe e filha. Ambas passam bem. O público que acompanhou o corre-corre na rua festejou quando a menina foi entregue à família.
O avô, Osvaldo Fraga, 60 anos, falava pouco e chorava no restante do relato. Ainda estava sem fôlego, mesmo meia hora após ver a neta nascer. Questionado se colocaria na certidão "Nissan Versa" , o modelo do carro, como local de nascimento, respondeu de bate-pronto.
— Faço questão de colocar Unidade de Saúde Tristeza — disse, puxando uma salva de palmas aos servidores do posto.