Ela é um dos símbolos de Porto Alegre. Projetada na Inglaterra e construída à margem do Guaíba, com uma inconfundível chaminé de 117 metros, todo mundo a conhece como Usina do Gasômetro. Mas, de gasômetro, esse prédio nunca teve nada.
Menores e mais discretos, os galpões da verdadeira usina de produção de gás para iluminação pública e abastecimento de fogões entre os séculos 19 e 20 ficam na atual Rua Washington Luiz. Estão escondidos por um muro, a 200 metros do “falso” gasômetro, que na verdade produzia energia elétrica a partir do carvão mineral.
O jornalista Rafael Guimaraens, que pesquisou o tema para o livro Águas do Guaíba (Editora Libretos, 2015), explica que essa contradição tem origem geográfica: a termelétrica levou o nome por ter sido instalada nas imediações da usina de gás, região chamada de “volta do gasômetro” na década de 1920.
– Não era pelo tipo de energia que gerava, mas por causa do bairro – destaca.
A Usina de Gás de Hidrogênio Carbonado foi fundada em 1874. Quem conquistou a concessão foi um barão francês chamado Noel Paul D’Ornano, uma figura excêntrica, como descobriu Rafael Guimaraens. Ele chegou a Porto Alegre como vice-cônsul, mas acabou demitido por cometer supostas ilicitudes. Mesmo assim, conseguiu a exclusividade da licença, vendendo para uma companhia inglesa que já operava em outras capitais brasileiras.
Os serviços de gás foram expandidos até a Primeira Guerra Mundial, mas, a partir de 1917, iniciou a substituição dos combustores a gás por lâmpadas elétricas.
Em 2002, o terreno passou a ser utilizado pelo já extinto Departamento Municipal de Esgotos Pluviais (DEP). Onze anos depois, o conjunto remanescente das edificações do gasômetro foi tombado pelo Estado, passando para a propriedade da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
No processo de tombamento, foi levado em conta o valor histórico da construção, a originalidade das edificações de tipologia industrial de elementos neoclássicos – mesmo tendo sido parcialmente descaracterizados com novas esquadrias, telhas e aberturas de vãos –, o valor de uso, por permitir novas funções, e o valor de referência para a população.
“As edificações remanescentes da antiga Usina constituem um testemunho da história da iluminação pública na cidade”, destaca o texto publicado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae).
O imóvel localizado na rua Washington Luiz, 215, é de propriedade da CEEE Transmissão. A empresa não informou como é utilizado hoje e se há a intenção de abrir ele à comunidade. Afirmou, via assessoria de imprensa, que, "como o Grupo CEEE está em processo de desestatização, a empresa prefere não se manifestar sobre situações específicas de seus imóveis".
Que lugar é este?
Esta matéria faz parte do especial "Que lugar é este?", que começa como uma provocação aos leitores do jornal Zero Hora e das redes sociais de GZH a partir do detalhe de uma foto para, então, ter a história do local ou dos personagens envolvidos contados no site.