Não sei se ia no Paul porque eu amava aquele espaço, ele mesmo ou a experiência de “shot” de autoestima. Talvez o pacote disso tudo, por um preço que parecia desconhecer a inflação.
O Salão do Paul ficava num prédio meio escondido ali na Marechal – a gente tocava a campainha e atravessava um corredor para chegar onde ele provavelmente já estava cortando o cabelo de alguém frente àquela penteadeira clássica, que convivia com a mesa industrial, sombrinhas coloridas no teto, paredes com folhas de zinco.
Engraçado que tantos estilos fizessem daquele espaço algo tão acolhedor, mesmo quando mudavam a cada visita. Acho que é porque refletiam o jeito do Paul, esse cara meio tímido, mas moderno, de trabalho autoral e que, mesmo quando a gente deixa de ir um tempo, sempre lembra de detalhes quando te vê de novo: “Como tá o trabalho na ZH?”, “Tem viajado muito?” “E teus irmãos e tua mãe?”.
O meu cabelo virou meio que uma marca registrada minha, por muito tempo. As pessoas vinham dizer “nossa, que estiloso, onde tu corta?”. E assim se propagava a melhor das propagandas, a do cliente satisfeito.
O Paul agora deve ir trabalhar, pelo menos por um tempo, no mesmo salão dos tios dele, na Avenida Independência. Engraçado que um dia, sem querer, descobrimos que um desses tios, o Ênio Santos, amigo de infância dos meus irmãos e que até hoje me chama carinhosamente de “mana”, muito cortou o cabelo da Maria Rita criança. Fico feliz porque o Paul vai estar num lugar de amor. Mas também torço que ele esteja mesmo onde quiser estar, seja ali ou em um novo Salão do Paul.
Na entrada do espaço da Marechal, gostava particularmente de duas plaquinhas, que juntas, traziam o lembrete: “Cabelo cresce”. Um sinônimo de “se não ficar bom, a gente tenta de novo”, ou “se cair, a gente levanta”. Para todos aqueles que tiverem que se reinventar nesses tempos, lembrem disso: cabelo – e coragem – crescem.