Pinturas, desenhos, luminárias exóticas, objetos de antiquário ou achados no lixo que decoravam o Salão do Paul estão sendo retirados, pouco a pouco, da sala ao final do corredor térreo do Edifício Marechal. Isso de se desfazer de tudo o que não foi presente abala o cabeleireiro Paulo Azevedo Araújo, 51 anos, que está fechando o espaço no centro de Porto Alegre por causa da pouca demanda durante a pandemia de coronavírus:
- Eu comecei a vender (o mobiliário e a decoração), agora já estou mais desapegado.
Fazia 33 anos que Paul trabalhava ali. Ele revestiu as paredes com telhas de zinco e enfeitou tudo de forma que “nada combine com nada e tudo se entenda”. O artista visual Caio Mascarelo, 34 anos, conta que cada vez que ia, o lugar estava diferente: sempre tinha um item novo na decoração. Ele define o salão como “um esconderijo das artes em Porto Alegre”.
- Quem passa pela rua, não imagina que tem uma pérola dessas naquele prédio. Tinha vários trabalhos meus e de outros artistas amigos do Paul. Era quase uma galeria onde você corta cabelo - afirma.
Paul conquistou uma freguesia cheia de artistas visuais, músicos, atores, jornalistas, e muitos iam até lá para conversar, usar o espaço para gravar clipes ou fazer ensaios fotográficos. Mas não eram seu único público.
- Não era só pessoal tatuado, das artes que vinha. Crianças, senhoras, senhores também vinham porque se sentiam à vontade aqui - diz ele.
O corte de cabelo refletia o ambiente, de certa forma. Ele tem um estilo mais artesanal, mais desconstruído, segundo o próprio cabeleireiro.
Com o encerramento das atividades na Marechal Floriano, Paul vai voltar a trabalhar com os tios, com quem começou a carreira como auxiliar aos 13 anos. Deve migrar até o final do mês para o Santos e Ênio Hair, na Avenida Independência, que tem uma proposta bem mais tradicional do que tinha o Salão do Paul.
Ele tem sido estimulando pelos amigos a reabrir assim que a pandemia acabar e a economia se restabelecer, mas não pensou muito nisso ainda.
- Todo mundo me dá força para voltar com o meu salão, talvez em uma sala menor. Mas como eu tenho 51 anos, não sei se eu vou ter mais paciência para fazer tudo de novo.