O fechamento temporário de negócios não essenciais em razão da pandemia de coronavírus motivou uma briga feia entre donos de renomados salões de beleza de Porto Alegre neste final de semana, em um episódio que ganhou repercussão pelo compartilhamento de vídeos em redes sociais.
Ao avaliar que uma concorrente estava funcionando de maneira irregular no sábado (27), quando a bandeira preta do distanciamento controlado já vigorava em todo o Estado, o proprietário do salão Hugo Beauty, Hugo Moser, bateu à porta da estética Meia Hora, localizada na Avenida Nilo Peçanha, bairro Boa Vista, para reclamar. A iniciativa terminou em bate-boca, com ofensas recíprocas de "maconheiro" e "bagaceira", gravado com celular por uma pessoa que estava no local, e virou caso policial.
— A polícia esteve no local a partir de uma denúncia anônima. Mas, quando a viatura esteve lá, já não havia ninguém dentro. Vamos analisar um vídeo divulgado nas redes sociais e ouvir testemunhas para averiguar se houve descumprimento do decreto estadual — afirma a chefe da Polícia Civil no RS, delegada Nadine Anflor.
As imagens mostram atendentes na recepção e outras pessoas que aparentam ser funcionários. Conforme Nadine, somente na manhã de sábado foram feitas 20 denúncias à polícia gaúcha sobre funcionamento indevido de estéticas.
De início, era possível supor que o primeiro encontro entre Moser e a responsável pela Meia Hora, Elisandra Rhoden, donos de dois estabelecimentos de alto padrão na área de beleza na Capital, seria harmonioso. Mas as aparências foram logo desfeitas.
— Eu sou o Hugo, Hugo Moser — disse o empresário, na porta do estabelecimento da Nilo Peçanha.
— Tudo bem? Prazer em conhecê-lo — respondeu a concorrente.
— Eu não tenho esse prazer — declarou Moser, ressaltando que o fato de o local estar aberto seria crime e que chamaria a polícia.
Elisandra prosseguiu fazendo referência a uma possível disputa de mercado:
— Eu imagino que o senhor não deve estar feliz em me conhecer. Incomoda tanto o senhor, né.
— Incomoda muito — respondeu Moser.
— Mas eu vou incomodar mais.
Hugo Moser então diz que os demais salões estão fechados, e abrir configuraria crime. Em um segundo vídeo, quando o empresário já está na rua, no banco do passageiro de um veículo, a discussão continua. Elisandra grita:
— Faz fiasco lá no teu biombo, não no meu.
Em nota publicada após a confusão, a Meia Hora afirmou que a empresa foi “injustamente acusada” nas redes sociais. Alegou que estavam sendo feitos “pagamentos aos profissionais no escritório localizado dentro do salão. São eles os que mais sofrem sem trabalhar e eles que sempre iremos proteger”. O texto divulgado pelo Instagram diz ainda que não recebeu multa e que o local estava sendo limpo para, depois disso, permanecer fechado durante uma semana.
Hugo Moser também se manifestou após o conflito, em vídeo divulgado nas redes sociais (veja post a seguir).
— Como representante do Hugo Beauty e de milhares de profissionais da área de beleza, me senti desrespeitado. Acho uma injustiça com as pessoas que seguem os protocolos e estão lutando pela sua subsistência e sustento.
A Guarda Municipal esteve no local duas vezes no sábado e uma no domingo (28). Conforme o Secretário da Segurança de Porto Alegre, Mario Ikeda, não foram feitas autuações porque não se verificou atendimento ao público nesses momentos.
O caso deverá ser investigado pela 8ª Delegacia de Polícia da Capital. Segundo Nadine Anflor, Hugo e Elisandra serão chamados nos próximos dias a depor. GZH procurou falar diretamente com a responsável pela Meia Hora por meio de um telefone fixo e de um número de celular, mas não conseguiu contato.