Com as obras estruturais próximas da conclusão, as novas pistas de skate da orla do Guaíba, em Porto Alegre, receberam a visita de skatistas de diferentes perfis para testar os equipamentos. Cerca de 20 visitantes foram convidados pelas empresas que tocam os trabalhos, a Spot Skatepark e a Rio Ramp Design.
O principal desafio de uma boa pista, conforme os praticantes, é chegar a um equilíbrio que propicie a prática tanto de iniciantes quanto de competidores profissionais.
— É interessante, por exemplo, a pista ter diferentes alturas. Se ela é muito baixa, fica sem graça, mas se for muito íngreme, fica muito difícil e cansativo de fazer as manobras. Esta aqui (a principal) ficou bem balanceada nesse sentido – avalia Mariana Menezes, 16 anos, campeã gaúcha de skate na modalidade park, em que os skatistas pontuam executando diferentes manobras por determinado tempo na pista.
Outro ponto que pesa na avaliação é a chamada “suavidade nas transições”. Como as pistas são feitas de concreto, é comum que – entre uma parte lisa e uma inclinada, por exemplo – haja emendas que influenciam na velocidade e na estabilidade do skatista. Para dar acabamento a essas imperfeições, os próprios operários da obra são skatistas que testaram a lisura do concreto conforme as pistas foram construídas.
— Não é tão incomum vermos pistas grandes por aí. Mas é bem difícil encontrar uma pista assim, com o concreto tão liso — conta o médico Lucas Teixeira, de 56 anos.
Teixeira é do tempo em que, para se obter um skate em Porto Alegre, era preciso comprar um patins profissional em uma loja especializada do Centro Histórico, retirar as rodinhas e pregá-las a uma tábua. Se ele é o veterano da trupe, Marina Martins Brauner está no extremo oposto. Aos 11 anos, “Mai” faz parte da equipe pré-olímpica sub-15.
— Acho que dá pra eu competir em 2024 (em Paris), mas boa mesmo eu vou estar em 2028 (em Los Angeles) — projeta a menina, que comemora a inclusão do esporte nos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados de 2020 para 2021 em razão da pandemia.
Mai é pelotense e tem pouca lembrança de como começou no skate, pois tinha quatro anos. Só se recorda dos primos a equilibrando em um longboard. Aos pais, Paulo e Daniela, que não tinham vínculo algum com o esporte, só coube incentivar e arranjar um professor pra a filha. A nova pista de Porto Alegre será uma solução para a falta de locais públicos para treinamentos com maior nível de exigência – hoje Mai treina a maior parte do tempo em casa, em rampas de madeira –, mas também um problema.
— Nem saímos daqui ainda e ela já me perguntou quando vamos voltar — conta Paulo.
O trecho 3 da Orla (entre a foz do Arroio Dilúvio e o Parque Gigante) terá 6 mil metros quadrados dedicados ao skate, bem em frente ao novo estacionamento recém inaugurado. Cerca de 2 mil metros abrangem as três pistas para a modalidade park: a principal, que deverá ser certificada para sediar competições, a “bowl”, que remete às piscinas vazias que deram origem ao esporte, e a “snake run”, mais rasa e sinuosa, para iniciantes.
Os demais 4 mil metros quadrados serão dedicados à modalidade street, em que o skatista pratica superando obstáculos. Nesse espaço, os equipamentos homenagearão outros pontos clássico do skate Porto Alegre, como os corrimões da Câmara Municipal, os bancos do calçadão de Ipanema e ponte da Praça Itália.
A previsão de conclusão é fevereiro de 2021.