— Eu trabalhava com gastronomia. Mas construir pista de skate e andar no final da tarde é muito melhor.
Por baixo da máscara, estava a satisfação do operário Guilherme Camargo, de 23 anos, minutos após o terminar o expediente. Ao lado Victor Correa, de 24 anos, estudante do curso técnico de administração e operário na obra. Ambos são serventes, mas no fim do expediente, trocam as botas por tênis e os os blocos de concreto nas mãos por skates nos pés.
Eles integram a equipe que trabalha na revitalização da Orla Moacyr Scliar (do Guaíba), próximo ao Parque Marinha do Brasil, e está incumbida da construção da nova pista de Skate. Nos últimos dias, Guilherme, Victor e outros trabalhadores aproveitam os minutos finais de trabalho servem para testar a pista que está sendo construída na região. Tudo com o aval do chefe.
Um Bank - um tipo de pista similar a uma piscina, mas com ondulações - já está praticamente pronto. Então, os operários skatistas aproveitam a experiência para testar a pista e identificar possíveis correções. Guilherme Camargo se acostumou a andar de skate no Marinha. Depois, desfilou manobras na pista do IAPI. Agora, está tendo a oportunidade de auxiliar na construção da pista.
— É uma satisfação muito grande estar construindo a pista. Eu precisava do emprego. Mas fazia o curso técnico e trabalhava na gastronomia. Agora, posso unir o útil ao agradável. É muito bom andar no fim do dia — diz ele.
Para Victor, estudante de um curso técnico de administração e que deixou um escritório no início da pandemia, participar da construção da pista de skate da orla do Guaíba é um orgulho. Praticante da modalidade desde a adolescência, o morador do Rubem Berta destaca que os testes são importantes.
— A gente andou pra testar juntas, ver se as transições estão lisas. Dar umas dicas. Vai ser da hora! Eu queria saber como fazer e andar na minha cidade. Eu vou ser o local. Vou poder contar até para os meus filhos. "O pai que fez"— brincou ele, que ainda não tem descendentes.
Um dos responsáveis pela obra da nova pista é o arquiteto e sócio diretor da empresa Spot Skatepark, Frederico Cheuiche. Ele já atua há 15 anos no setor e diz que o conhecimento dos skatistas é fundamental para entrar na empresa e trabalhar na construção das pistas, mesmo que muitos não tenham tanta experiência em obras.
— A gente traz essas pessoas que andam de skate para a equipe. Depois, eles vão aprendendo habilidades de construção civil. O teste de seleção, ao invés de experiência em construção, a gente vê se ele sabe dar um ollie (um pulo) com o skate — brinca Cheuiche.
Um dos encarregados pela obra de skate na Orla do Guaíba é Wagner Silva, de 35 anos. Ele é carioca e já teve a oportunidade de fazer obras semelhantes em vários pontos do Brasil. A experiência dos operários skatistas é importante para fazer correções que somente "quem anda, sabe".
— A gente constrói. Mas como a gente é skatista, gostamos de testar. A gente vai vendo um pedaço de parede e vai andando. Aí vê outro pedaço e vai andando. Se tem algo ruim, dá tempo de corrigir. Eu fico feliz pelos moleques — brincou ele, com o sotaque característico do Rio de Janeiro.
A pista
O conjunto de pistas de skate faz parte do trecho 3 das obras de revitalização da Orla do Guaíba. As obras são realizadas pelas empresas Spot Skateparks e a Rio Ramp Design. A pista será a maior já construída na América Latina, com 6.120 m², e poderá receber até competições internacionais. A previsão é de conclusão das obras do trecho 3 é fevereiro de 2021.
Conforme o Secretário Secretário Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana de Porto Alegre, Marcelo Gazen, o complexo de pistas de skate que está em construção na Orla do Guaíba é 'democrático', pois tem vários níveis de dificuldade, permitindo que iniciantes e profissionais possam desfrutar da pista. Ele ponderou ainda que a expertise dos trabalhadores auxilia na proposta.
— Nada melhor do que os praticantes para terem a ideia da melhor qualidade possível. O intuito é fazer uma pista o mais democrática do mundo, que possa ser útil para crianças, mais velhos, mas com uma parte capaz de atrair eventos profissionais de skate também e fomentar o turismo — disse Gazen.