Após a liberação para que bares e restaurantes funcionem até as 22h em Porto Alegre, estabelecimentos abriram as portas nesta quarta-feira (2) com horário ampliado. A reportagem de GZH circulou por ruas da Cidade Baixa e do Moinhos de Vento nesta noite e encontrou pontos de aglomeração. A maioria dos clientes dos locais não usava máscaras faciais nem mantinha o distanciamento mínimo permitido.
Colegas de trabalho, os advogados Cesar Augusto Schmitt Souza e Rita Braun se deslocaram para a Rua Padre Chagas no fim da tarde e permaneceram por lá para aproveitar o primeiro dia de ampliações.
— A gente entende que, se trabalha junto, de forma presencial, não faz diferença sentar para tomar uma cerveja junto. Mantendo a distância, usando álcool gel, é tranquilo. E parece que a gente volta a se sentir gente, sente um pouco da normalidade de novo — resume Rita.
Por medo da exposição e de sofrer julgamento, a maioria dos entrevistados pediu para não ser identificado.
Na Rua da República, na Cidade Baixa, a proprietária do Pinacoteca, Mariana Zimmermann, conta que as atividades no local estavam suspensas desde março e foram retomadas na segunda-feira (31), até as 17h. O estabelecimento que antes tinha um bom fluxo de vendas no almoço chegou a atuar por pague e leve, mas teve pouco retorno.
Agora, com a flexibilização, a proprietária espera uma melhora no movimento. Como os 16 funcionários foram demitidos no início da pandemia, ela se vira entre o atendimento das mesas e as demais funções.
— Acho que as pessoas perderam um pouco o medo de saírem. Mesmo sabendo que ainda há muito o que enfrentar, estão um pouco mais tranquilas. Mesmo assim, o movimento ainda é tímido — afirma.
— A gente até pensa em recontratar algumas pessoas para ajudar no atendimento aqui, mas é tudo muito incerto, é preciso avaliar o movimento, se o decreto vai mudar, são várias questões.
Nas mesas dispostas pelos estabelecimentos na rua da Cidade Baixa, a maioria das pessoas conversava sem o uso de máscaras. Uma das frequentadoras é a assistente contábil Amanda Albuquerque, que se mudou em julho para a Cidade Baixa. Ela conta que fez o isolamento durante os primeiros meses da pandemia, mas depois passou a sair e ver amigos:
— Como eu moro sozinha, sei que se eu infectar alguém vai ser a mim mesma. Os meus colegas de trabalho também estão saindo, fazendo suas coisas. Não tenho problemas de saúde que poderiam agravar a situação caso eu contraia, então não sinto medo — afirma.
Outra frequentadora do bairro durante a primeira noite da liberação afirma que costuma se reunir com um grupo de amigos em frente a alguns estabelecimentos e ficar na calçada, consumindo bebidas por meio do modelo pegue e leve.
— A gente sabe que é hipócrita dizer que precisa se cuidar e mesmo assim continuar saindo. Mas ninguém aguenta mais ficar em casa, a gente se sente obrigado a sair — diz a secretária, que preferiu não revelar o nome.
Outro frequentador relata que ampliou sua rede de amigos durante a quarentena e que notou uma mudança na forma como as relações se desenvolveram em meio à pandemia:
— As amizades que fiz nesse período foram diferentes. Como a gente não podia ficar na rua, íamos todos para a casa de alguém, fazíamos almoço, janta. As relações ficaram mais intensas, parece que as pessoas queriam se ver, se conhecer, porque sentiam falta desse contato, então fluía diferente. Acho que sem a pandemia isso não aconteceria.
O proprietário de um bar na Padre Chagas, que também preferiu não se identificar, afirma que o local vinha atuando com horário reduzido. Com a flexibilização desta quarta, viu o movimento melhorar.
— Não vai ter como salvar o ano nas próximas semanas ou meses, a retomada vai ser tímida e gradual, mas acredito que o fluxo de pessoas vai melhorar com a ampliação dos horários.