Por décadas, a noite na Cidade Baixa terminava na esquina da Rua da República com a João Pessoa, fosse com uma sopa de capeletti quentinha ou uma cerveja gelada. Mas agora é o dono do bar conhecido como o último a fechar que quer pedir a saideira.
Inaugurado há 60 anos, o Van Gogh está à venda. O anúncio é feito em giz num quadro negro pendurado na fachada do prédio, que dá também a possibilidade de alugar o ponto. Na verdade, o proprietário Claudio Piovesani, 60 anos, já tentava isso antes da pandemia, há pelo menos três anos. A crise que acompanhou a chegada do coronavírus só aumentou a vontade.
Claudio quer se aposentar. A ideia é se mudar para as bandas de Putinga, no Vale do Taquari, onde tem parentes.
— Já estou cansado também — relata.
Claudio manteve o Van Gogh o mais preservado possível desde que comprou o bar, há 27 anos. O lugar parece mesmo congelado no tempo, com luminárias de aço de iluminação quente, garrafas de vinho servindo de decoração nas colunas, mesas e cadeiras de madeira e grossas cortinas vermelhas. Na parede, há também duas imitações do Autorretrato e da tela Girassóis do pintor holandês que dá nome ao estabelecimento. O primeiro dono era fã, conta Claudio.
Já no cardápio, o charme fica por conta da fartura e da sustância. Além da já citada sopa, aipim frito, bife à parmegiana, carreteiro, canja, massa carbonara eram algumas das opções para os clientes famintos na madrugada — o lugar fechava às 8h, inicialmente, e às 5h, antes da pandemia. Lupicínio Rodrigues e Paulo Sant'Anna estiveram entre os clientes, e até mesmo o cantor Caetano Veloso já pintou por lá.
O Van Gogh não está parado durante o período de distanciamento social: segue fazendo telentrega pelo aplicativo Ifood. E Claudio se organiza para voltar a receber os clientes à noite, com a liberação pela prefeitura.
Isso, é claro, enquanto não fecha negócio. Ele almeja uns R$ 90 mil pelo ponto — o imóvel não é próprio, é alugado.