Mesmo com restrições rígidas para comércio e serviços, há uma parte de Porto Alegre que não parou. GaúchaZH circulou, nesta quinta-feira, pelos bairros Petrópolis, Três Figueiras, Jardim Botânico, Rio Branco, Bom Fim, Azenha e Menino Deus e constatou que negócios que não deveriam estar abertos, de acordo com decreto do prefeito Nelson Marchezan para controlar a disseminação do coronavírus, estão funcionando.
A Avenida da Azenha apresentou, no começo da tarde, o cenário mais deslocado. Alguns comércios mantinham portão ou grade parcialmente fechados, mas permitiam a entrada de clientes que se diziam interessados em algum produto. É o caso de uma loja de cosméticos e outra de tecidos na via. Só depois que a repórter se identificou, o atendente afirmou que o ponto estava aberto para retirada de encomendas.
Em uma galeria da Azenha, havia um salão de beleza funcionando. Pelo vidro da sala comercial, era possível ver uma cabeleireira atendendo uma cliente, ambas com máscara. A responsável afirmou que voltaram nesta semana a operar por hora marcada — o que, mesmo assim, não é permitido. Já em uma pequena loja de roupas da Barão do Triunfo, a entrada de qualquer cliente era autorizada, inclusive sem aferição de temperatura ou pedido para usar álcool gel. O proprietário não quis dar entrevista e fechou as portas logo que a repórter deixou o local.
A fotografia do comércio na avenida lembrou tempos pré-pandemia em razão de lojas que podem abrir por causa de um tipo específico de produto ou serviço, entre tantos outros não essenciais que oferecem. Pelo menos três grandes redes varejistas estavam com as portas escancaradas na Azenha — uma delas, até com pórticos de balões e música alta. Isso é possível porque são correspondentes bancárias ou vendem material de construção. Mas clientes interessados em outros produtos, como eletrodomésticos, também eram atendidos — o que não é ilegal, segundo a prefeitura, que segue a mesma lógica pela qual supermercados podem vender cafeteiras. Outro exemplo são bazares tipo R$ 1,99, que até registravam filas nas portas. Esses seguem abrindo com a justificativa de também venderem materiais de ferragem ou produtos alimentícios. Segundo a prefeitura, nesses casos, a autorização depende do tipo de alvará.
Conforme o Executivo municipal, foram interditados oito estabelecimentos na Azenha nesta tarde por descumprimento do decreto. Entre eles, comércios de móveis, bazares e papelarias. Em outras regiões da cidade, foram lacrados mais quatro endereços.
Na Avenida Protásio Alves, próximo ao cruzamento com a Mariante, uma loja de calçados colocou caixas na porta impedindo a entrada de clientes, mas os atendia no passeio público. A vendedora relatou que estão trabalhando com um sistema semelhante a drive-thru, o que não é permitido no comércio.
Seguindo na Protásio, no bairro Petrópolis, uma loja de cosméticos e maquiagem estava aberta. A gerente relatou a GaúchaZH que tem uma liminar autorizando o funcionamento, uma vez que vendem também materiais de higiene como álcool gel e sabonete. Mas, segundo a prefeitura, em decisão recente, essa liminar foi derrubada, portanto, a loja não teria permissão para atender.
O Executivo destaca que já fiscalizou aproximadamente 22 mil comércios, indústrias e serviços desde o final de março, interditando em torno de 400 destes. Mais de 700 foram autuados. A assessoria de imprensa não informa o valor das multas — afirma que as comissões judicantes observam a gravidade da infração, o dano causado, a capacidade econômica do infrator, as reincidências genéricas e específicas e as circunstâncias agravantes para decidir.