Após oscilar por volta dos 90% na quarta-feira (29), a taxa de lotação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) de Porto Alegre caiu para 86,7% nesta quinta (30) – não por redução no número de pacientes com coronavírus, mas pela criação de novos leitos na cidade.
Painel mantido pela prefeitura e atualizado por hospitais mostra que 23 vagas em UTIs, específicas ou não para coronavírus, foram criadas na Capital nas últimas horas. Ainda assim, há hospitais em situação complicada: Moinhos de Vento, Fêmina, Pronto-Socorro e Porto Alegre chegaram a 100% de suas capacidades.
A capital gaúcha tratava 304 pacientes com coronavírus internados em situação muito grave até 18h30min, dois a mais do que no dia anterior. A leve piora é a primeira após quatro dias consecutivos com recuo.
Ainda assim, a curva de ocupação em UTIs de hospitais de Porto Alegre dá sinais de perder força: nesta quinta, cresceu 6,3% em comparação à quinta-feira passada, menos da metade do crescimento entre 14 e sete dias atrás.
A média móvel de internados por coronavírus no intervalo de uma semana (soma dos internados em sete dias dividido por sete) também cresceu metade do registrado na semana anterior, como mostra o gráfico a seguir. Essa métrica, recomendada por especialistas, compara o cenário semana com semana, em vez de dia com dia, no esforço de reduzir eventuais distorções pontuais.
Cai média móvel de mortes em Porto Alegre
As estatísticas mostram que menos porto-alegrenses estão morrendo por coronavírus nos último sete dias. A cidade registrou uma média móvel de 9 mortes diárias – menos do que na semana anterior, quando eram 9,6 vítimas por dia. Ainda assim, são patamares mais altos do que há três semanas (média de 7,4 mortes diárias) e no início do mês (6,7). O índice é diferente do RS como um todo, já que houve crescimento de 17% nas mortes de uma semana para outra no Estado.
Os sinais de estabilização de leitos são mais fortes, mas especialistas afirmam que é preciso esperar antes de cravar que há um platô. A médica epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Jeruza Neyeloff destaca que a instituição segue com alta ocupação, sempre acima de 95% para os leitos intensivos dedicados apenas a pacientes com coronavírus.
— Ao avaliar a curva de pacientes confirmados em leitos de CTI, é importante considerar que não conseguimos diferenciar o que é uma aparente estabilidade da curva pelo controle da demanda ou uma possível estabilidade da curva simplesmente porque estamos no limite de pacientes que conseguimos manter em CTI. Como muitos hospitais da cidade estão com alta lotação, a gente não consegue colocar novos pacientes, então não podemos ver a subida da curva. Só podemos considerar essa estabilidade como situação mais controlada se junto com isso não tivermos demanda por novos leitos — afirma.
Pequenas variações diárias são comuns e é por isso que, em epidemias, deve-se esperar de duas a três semanas para fazer uma interpretação mais definitiva sobre o cenário, afirma Ronaldo Hallal, médico e consultor da Sociedade Sul-riograndense de Infectologia.
— A epidemia não é mais grave porque houve aumento da capacidade instalada da cidade. Aumentaram o número de leitos de UTI. O máximo que dá pra dizer é que há certa estabilidade na chegada de casos graves nos últimos dias em hospitais monitorados. E, especialmente com as baixas taxas de isolamento, não temos perspectiva em relação a grandes mudanças na velocidade da epidemia — afirma Hallal.
Na quarta-feira, o índice de isolamento social em Porto Alegre foi de 42,6%, abaixo da meta de 55% estabelecida pela prefeitura da capital gaúcha.