A lotação de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) de Porto Alegre chegou a 89,8% na tarde desta quarta-feira (29). O cenário é preocupante, mas mantém um ritmo de redução de crescimento (estabilização) que se delineia nos últimos dias: havia 302 pacientes graves em leitos intensivos de coronavírus até 17h20min – o menor dos últimos cinco dias.
A marca de 89,8% de lotação é ligeiramente maior do que no dia anterior (era 89,6%), mas não cresceu pelo coronavírus, e sim devido a internações por outras doenças. A taxa só não ultrapassou os 90% graças à abertura de novas vagas em hospitais de Porto Alegre – caso contrário, o sistema já teria colapsado.
Esta quarta-feira apresentou o terceiro dia seguido de queda no número de internados em UTIs, um fenômeno que ocorreu, pela última vez, entre o fim de maio e o início de junho, mostram dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) analisados pela reportagem.
A ocupação cresceu 5,6% em comparação com quarta-feira passada, mas o aumento é cerca de três vezes menor do que o intervalo entre 14 e sete dias atrás.
A média móvel diária de internados por coronavírus no intervalo de uma semana (soma dos internados em sete dias dividido por sete) cresceu, mas a velocidade de expansão caiu, como mostra o gráfico a seguir. Essa métrica, recomendada por especialistas, compara o cenário semana com semana, em vez de dia com dia, no esforço de reduzir eventuais distorções pontuais.
Médicos reforçam que é cedo para afirmar que há platô
Apesar de os últimos dias mostrarem sinais de estabilização nas internações em UTIs, médicos afirmam que ainda não é possível afirmar que há, de fato, um platô, uma vez que o fenômeno pode ser passageiro. Ao mesmo tempo, admitem que a fotografia do momento é positiva.
A redução da velocidade de ocupação de UTIs na cidade se repetiu no Hospital Conceição, ainda que a taxa de lotação siga por volta de perigosos 90%, destaca o diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Francisco Paz.
— A gente observa um pequeno indício de diminuição da demanda, mas ainda não dá segurança para dizer que há estabilização. Precisamos observar mais dias. Podemos estar entrando em curva descendente da epidemia, pode ser reflexo do pequeno aumento das medidas restritivas ou pode ser que o momento em que a epidemia chegaria a um platô. Mas é cedo para dizer — reflete Paz.
O último decreto que definiu mais restrições de mobilidade na Capital gaúcha ocorreu em 7 de julho. A aparente estabilização das internações pode ser resultado da decisão, afirma o professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alexandre Zavascki.
Contudo, pode haver outro motivo: a liberação de leitos por morte, e não alta, de pacientes. Na última semana, a cidade registrou uma média de 7,8 mortes diárias – menos do que na semana anterior, quando eram 9,6 óbitos novos por dia.
— A imensa maioria dos óbitos ocorre na UTI, então são vagas que liberam, não necessariamente doentes que fica bem. Se esses números estabilizarem, a gente pode esperar uma tendência. Mas é importante que as demais internações e o numero de infectados não cresça, senão haverá aumento de casos de UTI — afirma o médico infectologista.
Até o fim da tarde, foram confirmados 7,6 mil casos de coronavírus e 308 mortes em Porto Alegre.