Após a paralisação da indústria e da construção civil, Porto Alegre registra nesta sexta-feira (26) menos pessoas nas ruas em comparação a semana passada. A suspensão das atividades dos setores, últimos a terem suas atividades suspensas por decreto, impactou a realidade dos 67 mil trabalhadores, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que integram os dois grupos.
São 27,7 mil empregados nos 192 canteiros de obras e 39,2 mil nas fábricas. Com os profissionais afastados, a paisagem de pontos de constantes aglomerações mudou: na Rua Voluntários da Pátria, no Centro Histórico, dezenas de comércios mantinham as portas fechadas. Apenas lancherias e revendas de telefones celulares atendiam os parcos clientes.
— Aqui era fila o dia inteiro. Hoje vendemos um terço do que na semana passada — estima a gerente de um ponto de venda de pastéis e pães de queijo, Carla Lima, 29 anos.
Na Rua Vigário José Inácio, de inúmeros bazares, poucos pedestres se arriscavam no piso irregular de lajotas soltas. As paradas de ônibus da Avenida Salgado Filho não tiveram as mesmas filas dos últimos dias.
Lojas de roupas e de eletrônicos na Rua Otávio Rocha não abriram nesta sexta, o que esvaziou inclusive as calçadas estreitas ao lado da via de paralelepípedos. Apesar de ter o faturamento consideravelmente reduzido, Denise da Silva Raimundo, 65 anos, vê o lado bom da queda no movimento.
— Não ter ninguém na rua, assim, é bom para a vida da gente, que é o que mais importa — avalia a proprietária de uma banca de flores.
Com menos carros, o trânsito foi mais fluído na chegada e saída da área central, pelas avenidas Mauá e Edvaldo Pereira Paiva.
No bairro Menino Deus, os caminhões das construtoras desocuparam as vagas permanentemente ocupadas da Rua Marcílio Dias. Ainda vestindo os EPIs, profissionais recolhiam equipamentos do canteiro de um condomínio, como garrafas térmicas e itens de limpeza.
Os 40 funcionários da GND Incorporadora tiveram na quinta-feira (25) o último dia de trabalho no prédio de 15 pavimentos, erguido na Rua Gonçalves Dias. A empresa negocia o aluguel de andaimes, elevadores de obra e guinchos, agora sem utilidade. Sócio-diretor da empreiteira, Giovani Deboni, 43 anos, afirmou que ninguém foi demitido.
— As coisas tem mudado muito, então preferimos mantê-los em casa neste momento. Eu sou positivo, tudo isso vai passar e voltaremos mais seguros — afirma.
O empreendimento que é construído na área do antigo Estaleiro Só, no bairro Cristal, tinha alguns poucos profissionais nesta manhã, que manobravam os caminhões. Não foram vistos trabalhadores efetivamente envolvidos na estrutura em obras. Apenas intervenções considerados essenciais na estrutura, em áreas da saúde, educação e segurança poderão seguir.
Ao lado do condomínio da GND, um prédio residencial está cercado por jaús — andaimes suspensos. Quatro profissionais realizavam a troca de estruturas de concreto na fachada.
Como havia risco aos moradores, o advogado da Projecon Engenharia orientou a empresa a seguir com a intervenção. Todos usavam máscara enquanto faziam os reparos. Um dos sócios, Gilmar Viana, 35 anos, relembra que parte da construção caiu sobre veículos, o que motivou a reforma.
— É uma obra necessária, com apenas quatro funcionários. Em outras, com muita gente, concordo que não dá para continuar — opina.
Obras públicas também estão autorizadas. Nesta manhã, foram vistos trabalhos na sede da Secretaria da Fazenda, no Centro, na ciclovia próximo à Avenida Ipiranga, no bairro Praia de Belas, e no novo trecho que está sendo revitalizado na orla do Guaíba. Na indústria, estão liberadas apenas os ramos de alimentos, embalagens, limpeza e equipamentos e acessórios para proteção pessoal e profissional.