À espera do detalhamento das novas restrições que devem ser impostas pela prefeitura de Porto Alegre ao funcionamento do comércio, lojistas de pontos populares da Capital externavam preocupação e frustração na manhã deste sábado (13). Lojas com faturamento superior a R$ 360 mil anuais podem ter de suspender as operações outra vez a partir de segunda-feira (15).
Lizia Sibemberg, de 44 anos, proprietária da Casa Joia, especializada em vestuário e calçados, situada na Avenida da Azenha, definiu como "um susto" sua primeira reação ao tomar conhecimento da notícia. Depois de ter fechado as portas por 60 dias, reabriu o estabelecimento, fundado pelo avô há mais de 60 anos, em 20 de maio. Imaginava que não teria clientes, mas foi positivamente surpreendida pelos consumidores que chegaram em buscas de artigos adequados para o período de distanciamento social e maior permanência em casa: chinelos, pantufas, pijamas.
Após reduzir as encomendas para o inverno junto a fornecedores, Lizia deu início, na noite de sexta (12), a mais uma rodada de cancelamentos de pedidos. Ainda não teve tempo de vender o que requisitou após a reabertura.
– É uma incerteza total quanto ao amanhã. E não sou só eu. Tem famílias que também dependem daqui – lamenta Lizia, citando os dois funcionários.
Em um grupo de WhatsApp, comerciantes da avenida trocam informações e compartilham expectativas.
– Todo mundo está desanimado. Está cada vez mais difícil manter a loja aberta hoje em dia – relata.
Perto dali, do outro lado da avenida, a Papelzito – Papelaria e Informática, tem uma faixa barrando a passagem na entrada. Não são permitidos mais de quatro consumidores, simultaneamente, dentro do estabelecimento.
Todo mundo está desanimado. Está cada vez mais difícil manter a loja aberta hoje em dia.
LIZIA SIBEMBERG
proprietária de uma loja de vestuário e calçados
O proprietário, Delmar Moers, 50 anos, mostrava-se abatido com a possibilidade de suspensão das atividades, mesmo tendo se adequado às exigências das autoridades.
– Acho que existem outras medidas que poderiam ser adotadas para resolver isso de forma mais segura. É preciso ter maior conscientização. As ruas estão cheias de aposentados, crianças e outras pessoas só passeando. Isso afeta a funcionalidade de quem precisa trabalhar. Vai ser um problema muito sério – acredita Moers.
Uma reclamação comum entre os comerciantes da região é a de que, enquanto os pequenos negócios amargam o prejuízo do fechamento, supermercados seguem funcionando e vendendo os mesmos produtos, inclusive provocando aglomerações.
– Qual é o problema da minha loja? – questiona Moers, decepcionado.
Ele revela que vem pensando em fechar a papelaria, inaugurada há 15 anos, e investir em um plano b. O forte impacto da crise sanitária mundial na economia pode, enfim, obrigar a concretização dessa decisão, ainda que contra a sua vontade.
– O pequeno negócio funciona durante o mês para pagar as contas do mês. De três anos para cá, já temos "queimado gordura". Assim como está, o faturamento não é suficiente. Vai ser uma quebradeira grande, muitos negócios não têm alternativa.
Ao lado da Papelzito, uma padaria e uma lancheria já fecharam desde o início da pandemia no Brasil.
No Centro, havia boa movimentação de pedestres na Rua Voluntários da Pátria. Gerente da Baby Modas, Lucimara Gonçalves Miranda, 30 anos, ainda não havia recebido orientações da chefia quanto ao que pode acontecer a partir de segunda.
– É complicado, né? Temos nossas contas para pagar, temos que sobreviver. Não podemos dar um passo porque não sabemos o que vai acontecer – queixou-se Lucimara.