As mesas e cadeiras seguem empilhadas em um canto do Eskinão Bar, no Centro Histórico, em Porto Alegre. Desde a restrição imposta a bares e restaurantes devido à pandemia do coronavírus, os móveis tiveram sua utilidade reduzida a barricadas, impedindo o acesso ao local.
À espera de uma nova flexibilização, que deve ser publicada pelo prefeito Nelson Marchezan nesta terça-feira (19), o proprietário, Gilmar Ferreira Fraga, demonstra expectativa em atender seus clientes com mais conforto.
— Ninguém gosta de comer na rua, né? A gente arruma as mesas rápido se puder voltar o atendimento, usa máscara e luva, porque desse jeito está um desemprego e quebradeira geral — avalia o comerciante de 40 anos, há quase 20 no ramo.
Nas lancherias das avenidas Salgado Filho e Borges de Medeiros, correntes foram vistas nas fachadas. Em algumas, as vendas seguem sendo feitas apenas por uma fresta em frente ao balcão. Cortinas de ferro baixadas mantém o aspecto de limitação nos comércios.
A Expresso Lanches, na Rua Vigário José Inácio, perdeu 80% do faturamento com o fechamento do bufê. Na empresa familiar trabalham um casal, o sogro do proprietário e uma cunhada. Como os pratos prontos seguiram sendo comercializados no sistema pague e leve, a retomada completa do atendimento poderia acontecer no mesmo dia que houver autorização do município, segundo o dono do estabelecimento, o empresário Diony Vinicius Borba da Silva, 32 anos.
— A cozinha está funcionando. É só ajeitar as coisas e colocar a comida no bufê — explica.
O empresário pondera que, no horário do almoço, quem busca o restaurante costuma estar apressado, o que pode gerar aglomeração à espera de atendimento, gerando contradição aos pedidos de distanciamento de dois metros entre as pessoas. Outro desafio, segundo ele, é ter um funcionário exclusivo para servir os clientes.
— Nosso bufê custa R$ 15. A gente ganha no volume. Se eu tiver que contratar alguém para servir, vai ficar mais difícil manter o preço — estima.
Ao lado da Praça Daltro Filho, o impacto da pandemia foi tamanha que o proprietário do Fontanas tomou uma decisão inédita nos 32 anos de funcionamento do seu bar e restaurante. As cubas de inox seguirão vazias.
— Por enquanto, mesmo que libere, não vou reabrir o bufê. É muito trabalho —define o fundador e administrador do ponto da Rua José do Patrocínio, Darci Paulo Fontana, 64 anos.
Enfrentando a maior crise desde que abriu as portas do Olà Restaurante e Lancheria, Ivo Stefani, 54 anos, diz que "nem em pensamento" tinha passado por tamanha queda nas vendas. Poucos clientes na rua, ao lado do Viaduto dos Açorianos, e a proibição do self-service ao meio-dia reduziram o faturamento a 15% desde a chegada da covid-19 ao Estado.
O tradicional ponto servia quase 300 almoços antes da decisão do Executivo que restringiu a oferta nos locais de alimentação. Enquanto descascava bergamotas, porém, a esperança da volta por cima fica clara.
— Eu estou pronto, há muito tempo estamos prontos, para voltar — reitera o empreendedor.
O Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha) estima em 6 mil o número de estabelecimentos em funcionamento ou aguardando pelo decreto na cidade. De acordo com a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico, há 9.944 alvarás, entre restaurantes, pizzarias, bares e cafeterias. O órgão municipal pondera que parte desses comércios pode ter encerrado suas operações, sem dar baixa no registro. A pasta considera o número do Sindha “uma boa referência” de locais em atendimento na Capital.
Segundo a colunista Rosane de Oliveira, de GaúchaZH, o decreto da prefeitura deve trazer a autorização para a reabertura, com restrições, de bares, restaurantes, shopping centers, academias de ginástica, museus e bibliotecas. As igrejas devem receber autorização para reabrir as portas, mas com limitação do número de pessoas.