A incidência do coronavírus na população de Porto Alegre é a terceira menor entre as 27 capitais brasileiras – uma melhora frente a duas semanas atrás, quando a cidade estava na sexta posição, e há cerca de um mês, quando estava em 10º lugar. O indicador leva em conta o total de habitantes e, portanto, o tamanho de cada cidade.
A covid-19 atinge 41 pessoas a cada 100 mil habitantes na capital gaúcha – apenas Curitiba (PR) e Campo Grande (MS) estão em melhor situação, segundo levantamento da empresa de ciência de dados de saúde Dataglass da manhã desta segunda-feira (18), com base em registros oficiais.
No outro extremo, Fortaleza (CE) é onde o coronavírus atinge proporcionalmente mais pessoas, com 576 casos a cada 100 mil habitantes. Em seguida estão Recife (PE) e Macapá (AP) – veja o gráfico a seguir.
Dados mais recentes mostram que Porto Alegre tem 843 casos confirmados e 24 mortes pelo coronavírus.
Mas houve uma mudança negativa: duas semanas atrás, Porto Alegre tinha o menor ritmo de avanço diário de todas as 27 capitais brasileiras e, agora, caiu para a quarta posição, segundo cálculo de GaúchaZH sobre dados do Dataglass.
Se 15 dias atrás a capital gaúcha registrara uma média de cinco novos casos por dia, na última semana a média foi de 13 novos casos – o crescimento diário passou de 1,1% para 2,2%. O pior cenário é em Aracaju (SE), onde a epidemia cresce 6,4% a cada dia que passa – veja o gráfico a seguir.
Aumentou, também, a ocupação de leitos com vítimas com casos graves de coronavírus. Nesta segunda-feira (18), das 754 vagas para adultos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) em hospitais de Porto Alegre, 77 eram ocupadas por casos suspeitos ou confirmados para covid-19 – duas semanas atrás, eram 55, e, na semana anterior, 44.
A situação ainda é manejável: pacientes, com coronavírus ou não, ocupavam 73,9% das vagas até o início desta tarde – o sinal se torna vermelho quando a ocupação supera os 80%.
Porto Alegre começou a registrar um aumento de novos casos na última semana: o maior crescimento diário desde o início da epidemia na cidade foi na terça-feira passada (12), com 61 novos infectados. O prefeito Nelson Marchezan (PSDB), no entanto, já afirmou que isso é consequência da expansão da testagem: a nova orientação para moradores da cidade é de que qualquer pessoa com sintomas se dirija a um posto de saúde para ser testado se está com a doença ou não. A estratégia é inspirada na Coreia do Sul.
— Seguimos com incidência de casos relativamente baixa em comparação a outras cidades. O governo tomou decisão de fazer reabertura parcial e, automaticamente, as pessoas começam a relaxar o distanciamento, então esperamos um pequeno aumento nos casos. É claro que isso nos preocupa, porque os pacientes de covid ficam mais tempo em CTI e a liberação do leito demora mais, mas ainda temos capacidade para receber pacientes. Temos que acompanhar o cenário. Fechamentos e reaberturas são esperados — avalia Jeruza Neyeloff, epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Porto Alegre manteve o desempenho de duas semanas atrás e seguiu como a sexta cidade com menor taxa de óbitos, levando em conta o tamanho da população. Foram 21 vítimas fatais até o domingo, um índice de 1,4 mortes a cada 100 mil habitantes. O pior cenário é em Fortaleza (CE), Belém (PA) e Manaus (AM) – veja o gráfico abaixo.
O desempenho de Porto Alegre, com uma boa posição nacionalmente, mas uma piora quando comparada a si mesma ao longo do tempo, ocorre na semana em que o prefeito deve anunciar, nesta terça-feira (18), relaxamento nas medidas de distanciamento, em específico de shoppings. Uma parte do pequeno e médio comércio já foi reaberta.
Segundo o diretor geral de Regulação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Jorge Osório, o aumento na ocupação de UTIs é "esperado e controlado" e os números englobam, também, pacientes de outras cidades. Nesta segunda-feira, tanto no Clínicas quanto no Hospital Conceição, metade dos internados são do Interior.
— A ocupação dos leitos de UTI está subindo não em maneira exponencial, mas de forma alargada. É um aumento gradual, esperado e controlado. Monitoramos a ocupação para ver a velocidade desse aumento, o que vai determinar o aumento ou não do distanciamento social — observa Osório.
Neste momento, o coronavírus chega aos poucos à periferia da capital gaúcha, como mostrou reportagem de GaúchaZH da semana passada. Em bairros distantes da região central da cidade, medidas de prevenção são raras.
No início da pandemia de coronavírus, o Ministério da Saúde alertava que Porto Alegre era uma das capitais brasileiras que mais inspirava alerta, por ter a população mais velha do Brasil (15% de todos os habitantes) e o inverno rigoroso, época em que aumenta a ocupação de leitos em hospitais.